sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Tudo depende do Ponto de Vista

Uma história é contada por várias pessoas de diferentes maneiras. Cada uma tem sua opinião sobre um mesmo fato ou acontecimento. Algumas expressam o fato a seu modo, realçando cores e sombras; já outras tentam ser neutras, dizendo que branco é branco e preto é preto, sem discutir sobre o provável cinza. A isso se chama Ponto de Vista. Cada um tem o seu e não se discute.

A criação literária também é assim, só que, ao contrário do dito popular, aqui se discutem pontos de vista. A teoria ensina que existem basicamente três pontos de vista: primeira pessoa, segunda pessoa e terceira pessoa.

A primeira pessoa é egocêntrica e egoísta. Ela conta toda a história, enaltecendo ou desmoralizando a si própria e aos demais personagens. Ela é forte, mas limitada em seu saber. Ela imagina mas não pode sentir pelos outros participantes da narrativa. Um grande exemplo é Dolores Claiborne de Stephen King, em que toda a trama é contada por Dolores, num fascinante monólogo de mais de 300 páginas.

A segunda pessoa é rara de se achar na literatura de ficção. Ela é tímida e se dirige diretamente ao leitor. Ela usa tu ou você. Um bom exemplo da sua presença se encontra nos livros de auto-ajuda.

A terceira pessoa é popular e gêmeas: a limitada e a onisciente. A limitada gosta de um personagem e navega com ele pela história inteira. Tudo que acontece está ao alcance dos seus sentidos somente. Já sua irmã gêmea, a terceira pessoa onisciente, gosta de brincar de Deus. Sabe tudo sobre todos e a história é contada por vários ângulos. Mas... espere aí... não seria então dizer que, neste caso, a história é contada sobre vários pontos de vista? Não, em se tratando de literatura o ponto de vista continua sendo um só: terceira pessoa onisciente. É o famoso estilo: ele disse, ela falou, etc. E, por serem gêmeas, também podem aparecer misturadas numa mesma obra literária, focando-se um personagem principal na maioria das vezes, mas também dando uma chance para outros personagens.

Mais raro, no entanto, é misturar primeiras com terceiras pessoas. Arrisca-se nesse caso confundir o leitor com tantos pontos de vista diferentes.
Brinque agora um pouquinho com a imaginação e descreva algo na terceira pessoa. Eu usei um personagem e um espelho:
“O espelho cobria toda a parede oposta à porta e fez com que Susana se visse por completo, provocando-lhe um leve tremor na boca. Não gostava do seu corpo, menos ainda das roupas que usava, embora tivesse toda a liberdade para escolhê-las…”

Agora, tente a mesma cena na primeira pessoa:
“Não pude evitar uma reação involuntária ao me ver refletida naquele espelho enorme. Parecia que aquela imagem realçava as partes que menos gostava em mim e que tentava inutilmente cobrir com aquelas roupas largas e desajeitadas…”
Experimente, ouse e explore as capacidades de cada ponto de vista!
Até a próxima!

6 comentários:

  1. Olha eu aqui!!!!
    Grande nanda, colocando para o mundo suas idéias!
    Não deixe de, quando tiver um tempinho, visitar o meu caderninho.
    http://didiashin.blogspot.com

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  2. Obrigada!!! Dei uma olhada por lá. Estou começando e espero um dia atingir o teu nível!!!

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  3. Nanda, você escreve muito bem. É a primeira vez que visito seu Blog e gostei do que li.
    Acho que a águia já está pronta para voar.

    Abraço alvinegro

    Alvarez

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  4. Obrigada Alvarez.
    Seja sempre bem-vindo, especialmente com esse abraço preto no branco!!

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  5. Essa é a Nanda que eu conheço - inteligente, perspicaz e sensível. Muito legal e generosa a tua ideia.Isso é apenas um 'estágio' antes da fama...Um grande beijo e boa sorte.Éllida Guedes

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  6. Obrigada amiga! Sempre é bom receber um elogio de uma pessoa também envolvida com este mundo da comunicação!

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