sexta-feira, 30 de abril de 2010

Um Passeio às Feiras

Hoje, 30 de abril, é o Dia da Rainha (Koninginnedag) aqui na Holanda. Esta data, que em teoria deveria celebrar o aniversário da atual rainha, Beatrix, é, na verdade, o dia em que a rainha anterior, Juliana, mãe da rainha Beatrix, nasceu.

Neste dia, um mercado livre invade as ruas de quase todas as cidades holandesas. Livres de impostos, as pessoas podem montar uma simples barraca, estender um pano ou simplesmente dispor objetos em áreas pré-determinadas das cidades e vender o que quiserem, à exceção de algumas coisas, como por exemplo, produtos alimentícios, já que a comercialização destes é, por lei, sujeita a diversas regras. Obviamente que uma das coisas que não poderia faltar nessa feira improvisada são os livros. Entre os milhares de objetos oferecidos há sempre a possibilidade de se encontrar pequenos tesouros. Há alguns anos atrás encontrei um gibi sobre a história de Lampião e o cangaço no Brasil, escrito e desenhado por um holandês.

Mercados de livros são eventos populares nos Países Baixos. Em cada cidade há, em diferentes épocas do ano, mercados de livros ao ar livre ou em áreas cobertas, onde são comercializados, trocados ou até mesmo emprestados, livros de vários tipos, de gibis a clássicos, de literatura nacional (holandesa) a internacional, e livros escritos em diversas línguas. Um dos maiores e mais conhecidos é o mercado de livros da cidade de Deventer.


Este ano, no dia 1 de agosto terá lugar a 22a edição desse mercado que conta com aproximadamente 900 estandes de livros.

Extendendo-se a toda a Holanda e à Bélgica ocorrem também regularmente os mercados da Boekfestijn. Aqui se encontram vários livros com preços excelentes. É impossível sair de mãos vazias de uma feira dessas. E faz me lembrar das feiras de livro promovidas pela Vale do Rio Doce em São Luís, onde eu ia frequentemente com meu pai ou minha tia e voltávamos sempre com as sacolas cheias!!! Infelizmente essa feira não existe mais e as feiras que conheço pelo Brasil limitam-se aos grandes centros metropolitanos como a Bienal do Livro em São Paulo.

Há algum tempo atrás entrei em contato com um site interessante que estimulava a troca anônima de livros. Nesse site, em que a inscrição é grátis, pode-se registrar um livro e "soltá-lo no mundo". A idéia é deixar livros que já se leu em algum lugar público e anunciar no site. Cada livro possui um número quando é registrado no site e a pessoa que o acha pode retornar ao site - mesmo sem ser inscrito - e documentar o achado. Interessante é acompanhar a viagem do livro e as observações de seus próximos leitores. Book Crossing é realmente algo para explorar. Há livros rodando pelo mundo inteiro, inclusive no Brasil.

Bem, vou aproveitar agora o feriado do Dia da Rainha e relaxar com um bom livro nas mãos!!!

Até a próxima!

Stanze

Créditos:
Foto do Vondelpark em Amsterdam retirada do site http://www.koninginnedagamsterdam.nl/
Fotos do mercado de livros em Deventer retirada do site http://www.deventer.nl/

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Os nossos Pés de Laranja Lima

Ao olhar a minha folhinha do Sagrado Coração de Jesus observei que hoje é o Dia Mundial do Livro. Interessante que pensei em escrever sobre os livros que moldam a nossa infância e, juntando essa idéia com este dia, faço uma homenagem bastante significativa aos nossos amigos de papel (e digitais também).

A maioria das crianças começa seu contato com os livros através das histórias contadas pelos pais, avós, babás, tias e tios, até que a curiosidade supera barreiras e elas aprendem a ler e escolher as próprias histórias que lhes fazem viajar.

E assim foi comigo. O Meu Pé de Laranja Lima foi um dos livros que marcou a minha infância. O começo dessa fantástica obra literária já nos faz sonhar:

"A gente vinha de mãos dadas, sem pressa de nada pela rua. Totoca vinha me ensinando a vida. E eu estava muito contente porque meu irmão mais velho estava me dando a mão e ensinando as coisas..."

José Mauro de Vasconcelos foi um dos meus Totocas, e, como Zezé, eu aprendi a vida nas histórias que lia, pois como o mestre nomeou um dos seus capítulos, De pedaço em pedaço é que se faz ternura.

E quantos e quanto Pés de Laranja Lima são cortados ao longo da nossa vida fazendo com que as lágrimas de Zezé nos encham também os olhos:

"Papai tinha me seguido e viu que os meus olhos se encontravam de novo molhados. Quase se ajoelhou para falar comigo.
- Não Chore, meu filho. Nós vamos ter uma casa muito grande. Um rio de verdade passa bem atrás. Grandes árvores e tantas, que serão só suas. Você pode fazer, armar balanços.
Ele não entendia. Ele não entendia. Nenhuma árvore deveria ser tão linda na vida, como a Rainha Carlota.
- O primeiro a escolher as árvores, será você.
Olhei os seus pés, os dedos saindo dos tamancos. Ele era uma velha árvore de raízes escuras. Era um pai-árvore. Mas uma árvore que eu quase não conhecia.
- Depois tem mais. Tão cedo não vão cortar o seu pé de Laranja Lima. Quando o cortarem você estará longe e nem sentirá.
Agarrei-me soluçando aos seus joelhos.
- Não adianta, Papai. Não adianta...
E olhando o seu rosto que também se encontrava cheio de lágrimas murmurei como um morto:
- Já cortaram, Papai, faz mais de uma semana que cortaram o meu pé de Laranja Lima."

E quem não leu Coração do italiano Edmondo de Amicis e teve vontade de também transformar suas redações e histórias de colégio em pequenas literaturas?

"Coragem... pequeno soldado do imenso exército. Os teus livros são as tuas armas, a tua classe é a tua esquadra, o campo de batalha é a terra inteira, e a vitória é a civilização humana."

Olavo Bilac também marcou profundamente a minha infância. Uma das raridades que tenho em casa é um livro de poesias infantis que foi da minha avó e data de 1913. Os poemas mais presentes para mim eram A Avó, Pássaro Cativo e Plutão. Para apreciar esses fantásticos versos e outros mais, encontrei uma cópia do livro Poesias Infantis disponível na internet.

É claro que existem muitos e muitos outros livros que moldaram o meu jeito de escrever, ver e viver a vida.

Para encerrar o texto de hoje, parodio Zezé:  "E foi assim que eu ganhei a minha roupa de poeta. E eu fiquei lindo!..."

Até a próxima,

Stanze

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Uma Ode às Bibliotecas

Há alguns dias atrás uma amiga de serviço que está fazendo um curso de Psicologia me pediu que a ajudasse em um trabalho. Ela fez uma entrevista comigo em que o foco era relações familiares e personalidade. Amanhã ela vai apresentar o trabalho e me pediu que procurasse coisas pessoais minhas para ilustrar a exposição.

Imediatamente eu pensei em livros e passei algumas horas em um local que para mim é inspirador, relaxante e trasncendental: minha biblioteca.

Cícero dizia que "adicionar uma biblioteca a uma casa é dar-lhe alma". Eu acrescentaria dizendo que uma biblioteca não somente dá alma a uma casa mas principalmente dá tranquilidade e conforto à alma do dono.

Neste momento em que redijo o artigo de hoje estou aqui cercada pelas chamas da minha alma, os meus livros. O silêncio místico de uma biblioteca convida à inspiração, à liberdade de pensamentos. Uma poltrona ou sofá bem confortável, um raio de sol que entra pela janela numa tarde morna e vagabunda de domingo, iluminando de leve as páginas do livro aberto em nossas mãos, o prazer de correr os olhos pelas prateleiras e descobrir em cada uma delas uma preciosidade escondida, um mundo inteiro a ser explorado, tudo isso não pode ter outra denominação que não a de tranquilidade da alma.

Mas as bibliotecas não são somente estáticas. Aqui na Holanda os livros andam. No hospital, uma vez por semana passa o carrinho dos livros pelos quartos. Nas praias, no verão, há as bibliotecas de praia, com livros leves e despretensiosos. Um amigo meu trabalhava em uma biblioteca ambulante, dirigindo uma espécie de ônibus e percorrendo os bairros da cidade. São os bibliobussen, ou, permitindo-me a liberdade de aportuguesar, as onibotecas.

Existem também bibliotecas especializadas em determinado assunto, como as bibliotecas universitárias ou as bibliotecas para cegos, em que todos os livros são em braille. E há ainda as bibliotecas das prisões, que promovem a educação entre os presos. E, para não dizer que não falei deles, há as quadrinhotecas, somente de gibis (das quais eu - e vários amigos que conheço - possuo uma variação especial chamada de BiblioTex, dedicada exclusivamente ao personagem dos quadrinhos Tex Willer).

Bem, vou deixá-los hoje com algumas bibliotecas maravilhosas que encontrei pela internet:

Strahov Theological Hall


Biblioteca da Universidade de Coimbra, Portugal


Biblioteca George Peabody, Maryland, USA


Todas estas imagens foram retiradas do site The Gentleman Scholar. Para olhar outras bibliotecas postadas no site (há várias e lindas!), clique aqui.

Até a próxima,

Stanze


sexta-feira, 9 de abril de 2010

Clássicos e mais clássicos

Geralmente um bom escritor é aquele que lê, e lê muito. Na leitura o escritor descobre estilos diferentes, palavras incomuns e outras tão comuns, frases singulares, idéias geniais, mas principalmente, ele toma conhecimento da estrutura de uma obra literária, da maturidade de um personagem, da força de uma determinada narrativa. E, principalmente, embriaga-se com a gramática, o uso correto das palavras, a persuasão gentil das frases bem colocadas e escritas. Não há quem não se delicie com um livro bem escrito que nos envolve não somente pela história em si, mas pela maneira como o autor "arrumou a sala" para nos convidar a entrar no seu mundo.

Vejam só como Érico Veríssimo nos traz a agonia de Eugênio ao saber que Olívia está prestes a morrer em Olhai os Lírios do Campo:

"O sol da tarde doura os campos. O açude reluz ao pé do bosquete de eucaliptos. Mas Eugênio só enxerga os seus pensamentos. E dentro deles está Olívia, pálida, estendida na mesa de operações, coberta de panos ensangüentados. "Ela sabe que vai morrer... pediu para vê-lo..." Ele precisa ir. Imediatamente.
Uma voz infantil flutua no silêncio da tarde, num grito prolongado. É o rapazito que vai dar de beber a uma vaca malhada, tangendo-a para a beira do açude. As imagens do animal e da criança se refletem na água parada. Paz - pensa Eugênio -, a grande paz de Deus de que Olívia sempre lhe falava...
De novo o silêncio, e uma sensação de remorso, a certeza de que vai começar a pagar os seus pecados, a expiar as suas culpas.
Os olhos de Eugênio se inundam de lágrimas. Passam-se os segundos. Aos poucos a respiração se lhe vai fazendo normal e o que ele sente agora é uma trêmula fraqueza de convalescente.
Mas da própria paz dos campos e da idéia mesma de Deus lhe vem de repente uma doida e alvoroçada esperança, que lhe toma conta do ser. É possível que Olívia se salve. Seria cruel demais se ela morresse assim. Acontecem milagres - ele se lembra de casos...
Apanha o chapéu e precipita-se para a escada. Mas por que se detém de súbito no patamar, como se tivesse encontrado um obstáculo inesperado? Tem aguda consciência dum sentimento aniquilador: a sua covardia, aquela imensa e dolorosa covardia num momento em que devia esquecer tudo e correr para junto de Olívia."

Nesse processo de aprendizagem, um dos refrões que ouvimos é que, como autor ou simples leitor, temos que conhecer (e isso implica ler) os clássicos da literatura local e mundial. Mas o que isso significa? Que temos que nos debruçar sobre livros antigos, cheirando a mofo e cobertos de poeira? Sim, porque a primeira idéia que temos de clássicos são livros antigos, escritos pelo menos no século retrasado. O meu conceito de clássico - com certeza compartilhado por alguns - é um pouco diferente disso. Para mim um clássico é um livro que tem algum fator que o torna inesquecível. Esse fator pode ser a história em si, ou a maneira do autor escrever, ou um personagem de caráter forte, seja ele bom como Ben Hur no clássico homônimo de Lewis Wallace, ou mau, como Heathcliff em O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë. O que eu chamo de cláasico é na verdade, para mim, uma obra que é modelo de referência e que me volta à cabeça quando escrevo meus próprios contos ou artigos como este.

Nesse aspecto, eu divido os clássicos em duas colunas: os clássicos assim chamados em geral por sua importância em um dado momento, e os meus próprios clássicos, que me inspiram e me guiam no mundo das palavras.

Atualmente estou relendo O Morro dos Ventos Uivantes, desta vez na versão original em inglês. Existe uma outra dimensão na leitura de uma obra em sua língua original. A "mão" do autor é mais presente e marcante, sem ter passado pelo "ajustes" do tradutor. Nessa procura aos clássicos originais (tenho vários traduzidos para o português) descobri alguns sites com possibilidades de download grátis, pois várias obras mais antigas já tiveram os direitos autorais caducados. 

Eis aqui alguns dos sites que frequento, sendo que a maioria deles possui livros em sua versão original.

Goodreads - comunidade de leitores em que livros são analisados e comentados. Não é preciso se cadastrar para ter acesso aos e-books. Basta clicar em find books e depois selecionar ebooks.

LibrarySpot - este é um site para ser explorado com tempo. Tem acesso a milhares de bibliotecas, jornais e livros, é claro.

Project Gutenberg - o site se considera o primeiro a dar acesso a e-books grátis.

Virtual Books - possui vários livros nacionais.

The Online Literature Library - clique em authors index e selecione o seu clássico.Todos em inglês.

Nesses sites há muito que explorar e ler. Escolha os seus clássicos e boa leitura!

Até a próxima!

Stanze



 

sexta-feira, 2 de abril de 2010

E Cristo se fez homem ...

Como hoje é Sexta-Feira Santa resolvi dar uma olhada em alguns dos livros que foram escritos sobre Cristo, sua vida e sua Paixão.

O primeiro deles, que nos trouxe a história como a conhecemos, foi a Bíblia. Das versões dos apóstolos, que não foram os autores originais dos textos bíblicos, passamos a ter uma descrição do Cristo-Deus que veio à Terra, viveu e morreu para propagar a mensagem do Pai. Mensagem este que tem sido interpretada e usada de várias maneiras, algumas não tão libertadoras.

Muitos séculos depois, vários autores interpretaram Cristo à sua imagem e semelhança. A Ultima Tentação, de Nikos Kazantzakis, que não tem nada a ver com o filme de Martin Scorsese, tem como tese central a humanidade de Jesus Cristo que, embora livre do pecado, sofreria de medos, angústias, dúvidas, depressão e até luxúria.

O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago, foi banido pelo governo português por contar o evangelho de forma irônica, inventando novos milagres e profecias. No livro, Deus e o Diabo negociam sobre o mal e Jesus se questiona sobre seu papel na Terra desafiando o próprio Deus. Nesse romance, Maria Magdalena é a prostituta com quem Cristo perdeu a virgindade. O Cristo de Saramago afirma que "... o coração humano nunca está satisfeito. A realização do dever não traz paz de espírito, como querem nos fazer acreditar aqueles que se satisfazem facilmente."

Notadamente interessante é o livro de Norman Mailer, O Evangelho Segundo o Filho, em que o autor segue quase que fielmente os quatro evangelhos canônicos e usa o próprio Cristo como narrador da sua História. Sem ser um livro controverso, o autor ironicamente recebeu várias críticas sobre o que foi chamado a obra de um escritor judeu em homenagem à sua esposa católica.

Em 2003, o ator e produtor Mel Gibson comoveu o mundo com o filme A Paixão, que teve como inspiração maior o livro A Dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, publicado em 1833 por Clemens Brentano, baseado nas visões e meditações da freira Anne Catherine Emmerick. Anne Catherine, freira e santa alemã, entrou para a irmandade Augustina em 1802, aos 28 anos. Em 1813 a Santa apresentou estigmatas em seu corpo e várias investigações médicas se sucederam, comprovando a veracidade na origem das feridas. Numa dessas ocasiões ela foi visitada por Clemens Brentano que ficou fascinado pelas visões que a jovem freira tinha, descrevendo passagens da vida de cristo e sue mãe Maria como se as visse com seus próprios olhos. Uma cópia em pdf do livro pode ser encontrada neste link .

Uma outra visão de Jesus Cristo pode ser encontrada na epopéia Operação Cavalo de Tróia, de J.J. Benítez. Esse romance, já em seu oitavo livro, narra as duas viagens através do tempo de dois cientistas norte-americanos, em uma missão secreta, ao momento em que Cristo vivia na Terra. O primeiro livro, o mais intenso, narra a crucificação do Senhor. Possuidores de instrumentos de alta tecnologia científica os viajantes constatam os horrores que o Cristo sofreu na Cruz. Em outra parte, o livro critica a maneira com que os ensinamentos de Cristo foram repassados pelos Apóstolos e pela Igreja Católica.

Essa lista de obras literárias, algumas dignas talvez de constar do Index da Igreja Católica, constitui bom material de leitura no feriado da Semana Santa!!

Até a próxima

Stanze