sábado, 18 de dezembro de 2010

Um Conto de Natal

Daqui a uma semana é Natal e estamos todos correndo com as preparações para esta festa tão bonita. Por isso mesmo o Inspiracionando se atrasou e somente hoje estou publicando o artigo da semana.

Um dos maiores expoentes do Natal na literatura, a meu ver, é Charles Dickens. Sua história O Espírito dos Natais Passados (A Christmas Carol) é conhecida mundialmente e revivida em vários filmes, histórias, personagens, peças teatrais e até ao vivo. Aqui na Holanda personagens de Dickens passeam pelas ruas de algumas cidades neste período do ano, transformando a paisagem em um conto de fadas.

Para quem não conhece, A Christmas Carol conta a história de um senhor idoso, rabugento e sovina que detesta o Natal e todas as festividades relacionadas. Na Noite de Natal ele é visitado por 3 espíritos: O Espírito do Natal Passado, o Espírito do Natal Presente e o Espírito do Natal Futuro, que lhe mostram como foi, é e será seu Natal. O velho rabugento se chama Scrooge e inspirou Disney a criar o Uncle Scrooge (Tio Patinhas). Trago portanto aqui para vocês A Christmas Carol, de Disney, em espanhol, em 3 partes.







E, para encerrar, esta magnífica versão dos Muppets cantando Scrooge, em inglês. Abaixo segue a letra para quem quiser "sing-along" (cantar junto).


When a cold wind blows it chills you,

Chills you to the bone.
But there's nothing in nature that freezes your heart like years of being alone.
It paints you with indifference like a lady paints with rouge.
And the worst of the worst,
The most hated and cursed,
Is the one that we call Scrooge.
Unkind as any, and the wrath of many,
This is that Ebenezer Scrooge.


Oh, there goes Mr. Humbug, there goes Mr. Grim.
If they gave a prize for bein mean the winner would be him.
Oh, Scroogey loves his money cause he thinks it gives him power,
If he became a flavor you can bet he would be sour.
Yuck, Even the vegetables don't like him.

There goes Mr. Skin flint,
There goes Mr. Greed.
The undisputed master of the underhanded deed.
He charges folks a fortune for his dark and drafty houses.
Us small folk live in misery,
It's even worse for mouses.
Please, sir, I want some cheese.

He must be so lonely, He must be so sad.
He goes to extremes to convince us he's bad.
He's really a victim of fear and of pride.
Look close and there must be a sweet man insid
Naaaah! Uh Uh.

There goes Mr. Outrage, there goes Mr. Sneer.
He has no time for friends or fun,
His anger makes that clear
Don't ask him for a favor cause his nastiness increases.
No crust of bread for those in need,
No cheeses for us meeses.

Scrooge liked the cold.
He was hard and sharp as a flint.
Secretive, self contained.
As solitary as an oyster.

There goes Mr. Heartless, there goes Mr. Cruel.
He never gives, he only takes,
He lets this hunger rule.
If bein mean's a way of life,
You practice and rehearse.
And all that work is paying off,
Cause Scrooge is getting worse.
Every day, in every way, Scrooge is getting worse.


Até a próxima

Stanze

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

E que caia o pano

Estava comentando esta semana no Facebook os motivos pelos quais eu gosto das novelas brasileiras. Além do fato de morar fora do Brasil e a novela servir para me aproximar um pouco da minha própria cultura e raízes, eu adoro teatro. Para mim, a novela é um teatro televisionado. Logicamente que assistir a uma peça no teatro não se compara a uma novela na telinha mas, como se diz, quem não tem cão caça com gato.

A biblioteca da minha avó possuía, além dos milhares de romances, algumas peças de teatro. É claro que entre elas não poderia faltar Shakespeare, cuja coleção completa eu herdei, mas havia três autores que me chamavam especialmente a atenção. Um era Tenessee Williams, o outro era Ibsen e o terceiro Beckett.

Ibsen seja talvez dos três o mais conhecido por sua obra Casa de Bonecas, mas era Beckett quem me fascinava com o diálogo absurdo de Vladimir e Estragon em Esperando GodotSamuel Beckett era um dos autores que Martin Esslin apontou como representante do que ele chamou de Teatro do Absurdo.

Tenessee Williams, além do nome que eu já considerava exuberante, foi o autor de obras de títulos intrigantes, como Um Bonde Chamado Desejo e Gata em Teto de Zinco Quente, ambas transformadas em filmes, a primeira tendo Marlon Brando como protagonista e a segunda Paul Newman e Elizabeth Taylor. No Brasil várias dessas peças foram ao teatro, encenadas por atores como Leonardo Villar e Walmor Chagas, por exemplo.

Uma peça teatral possui basicamente as mesmas características de qualquer obra literária: personagem(ns), enredo, conflito e resolução (absurda ou não). O forte da dramaturgia é o diálogo ou monólogo e isso se apresenta bem característico quando a parte descritiva serve somente para dar referência à cena. A obra teatral é feita para ser vista mais do que lida.

Poucas pessoas lêem teatro hoje em dia, mas eu aconselho principalmente àqueles que desejam escrever romances ou contos, que o façam. A peça teatral ajuda a desenvolver a força do diálogo, tão importante nas obras literárias.

Para terminar o Inspiracionando de hoje eu reproduzo uma frase de Blanche, de Um Bonde Chamado Desejo: "Eu não quero realismo, eu quero mágica".

Até a próxima

Stanze

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Judas (ou Hardy) o Obscuro?

Vasculhando minha biblioteca encontrei Judas, o Obscuro, escrito por Thomas Hardy em 1895. O livro conta a história de Judas Fawley, um garoto órfão, que se torna um homem idealista obcecado pela cultura e atropelado pelos seus próprios fracassos em busca da felicidade. O livro chegou a ser cognominado Judas, O Obsceno, porque Hardy explora o fracasso do casamento, exaltando o caráter obscuro de seus personagens, o pecado, as relações sociais. Um trecho de seu livro exemplifica bem o que o romancista pensava das instituições sociais e que o levou a ser tão duramente criticado pelos leitores ingleses da era Vitoriana: ".... um casamento deveria ser dissolvido no momento em que se torna uma crueldade para ambas as partes - deixando então de ser moral e essencialmente um casamento...."

Hardy graceja em seu prefácio à edição de 1912 de Judas, O Obscuro, sobre um bispo que queimou uma cópia do seu livro: "provavelmente em desespero por não ter podido me queimar." A controvérsia causada por causa de seus romances Judas, o Obscuro e Tess d'Ubervilles (1891) criou na verdade mais curiosidade sobre seu trabalho, que acabou por se difundir pela Europa e América do Norte. 

Hardy usou como pano de fundo em suas obras a região da Inglaterra onde viveu e trabalhou. Seu conhecimento de arquitetura e seu espírito observador levaram-no a criar algumas das criações mais notáveis da literatura do século XX, principalmente peças teatrais e poemas, inspirando autores como D.H.Lawrence e Virgínia Wolf.

Thomas Hardy nasceu a 2 de Junho de 1840 em Higher Bockhampton no condado de Stinsford, na Inglaterra, próximo à cidade de Dorchester, onde faleceu a 11 de janeiro de 1928. Inspirado nas paisagens e cidades ao seu redor Hardy deu vida, através da sua imaginação, ao condado de Wessex que pode ser facilmente comparado com a verdadeira região de Dorset.

Eis um mapa da Wessex de Thomas Hardy:

Se tiverem oportunidade leiam Judas, o Obscuro e dividam comigo suas opiniões sobre esse romance tão criticado à época da sua publicação.

Até a próxima
Stanze

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Expressando emoções

Emoções são uma das expressões literárias mais intensas e, às vezes, mais difíceis de serem escritas. Emoções vão da alegria exarcebada à tristeza ou depressão profundas. As emoções são bem expressas quando o leitor sente realmente aquilo que o personagem está atravessando. Essa difícil empatia com o leitor só é conseguida quando o escritor consegue transcrever para o texto os sentimentos físicos que aquela emoção causa em seu personagem, sem expressar substantivamente as emoções que afetam o personagem naquele determinado momento. Em outras palavras, a boa técnica literária evita, por exemplo, o uso das palavras designativas da própria emoção sentida: medo, coragem, alegria, êxtase, etc. O interessante é “mostrar” ao autor o que o personagem está sentindo sem “dizer” que emoção é aquela.

Observe, por exemplo, esta frase:

- Ela abriu a porta com cuidado. Estava com medo do que veria lá fora.

Neste caso, o leitor sabe que o personagem está com medo, mas não “sente” o medo que realmente emana da situação. A mesma frase, escrita de outra maneira, faz com que o leitor compartilhe com o personagem a cena descrita.

Por exemplo:

- Ela tocou o trinco da porta. Seus dedos tremiam. Um frio estranho nas mãos, inconsistente com o calor do verão que já se aproximava, subiu-lhe pelos braços e desceu pelas costas, provocando um calafrio incontrolável. Sua mão pressionou o trinco mais para baixo e a porta se mexeu. Um vento quente entrou pelo pequeno espaço entre a porta e a parede. Não havia mais volta. O que estivesse ali fora já poderia entrar.

Sentiram a diferença? Em nenhum momento no segundo texto a palavra MEDO foi mencionada, mas não há dúvidas de que o personagem estava apavorado.

É bom evitar também o uso exagerado de clichês ou lugar-comum ao descrever as emoções: “coração que palpita” e “suor na testa”, por exemplo, são algumas das frases usadas e abusadas para descrever “amor” e “nervosismo”.

Esses pequenos detalhes técnicos abrem ao escritor um leque de possibilidades para atingir mais profundamente o leitor e deixá-lo mais próximo da história e do personagem. Em textos futuros eu explorarei mais este tema.

Até a próxima
Stanze

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Actio Inspirandum

Esta semana estréia em várias salas de cinema no mundo a primeira parte da última etapa da trajetória Harry Potter. Seria impossível, em um blog sobre a arte de escrever, não falar do fenômeno que é o garoto/adolescente bruxo e, principalmente, da mente criativa atrás da varinha mágica, JK Rowling.

Para os apreciadores de um bom livro e que não têm preconceitos temáticos eu aconselho a leitura da epopéia do garoto Potter, por vários motivos:

1 – é invariavelmente uma sensação mundial e para não ficar isolado dos rumos da literatura adolescente atual;

2 – o tema é cativante e a trama é muito bem elaborada e se complementa a cada livro;

3 – os livros são, como de regra, mais abrangentes e interessantes que os filmes.

Em termos de técnica literária, JK Rowling usou elementos bem marcantes em sua obra: personagens  carismáticos (mesmo os maus), com personalidades próprias e distintas; história temporal em que os personagens se desenvolvem e crescem, fácil de observar na linguagem mais adulta que Rowling usa a cada livro da série; detalhes reconhecíveis, onde se vê que a autora se inspirou em fatos e coisas reais para criar o mundo mágico de Harry Potter, como, por exemplo, os uniformes de escola usados pelos mágicos, da mesma forma que os estudantes ingleses também usam, ou a própria escola Hogwarts, inspirada, creio eu, no Arthur Findlay College, um instituto especializado no ensino e aperfeiçoamento de fenômenos paranormais e mediúnicos.

Acima de tudo isso, Rowling usou energias essenciais para todo escritor que quer ver sua obra completa e publicada: perserverança, força de vontade e disciplina. Como oradora em uma formatura em Harvard, em 2008, Rowling falou sobre sua própria vitória contra circunstâncias desfavoráveis. Em um discurso emocionante a autora discorre sobre falhas e o medo de falhar. "O que constitui para cada um o medo? O mundo está ansioso para lhe dar critérios se você deixar" ela cita, reforçando o poder que cada um tem dentro de si, e que "não precisamos de mágica para transformar o mundo. Nós carregamos dentro de nós o poder que precisamos. Nós podemos imaginar sempre algo melhor."  

(Vídeo somente em inglês)

J.K. Rowling Speaks at Harvard Commencement from Harvard Magazine on Vimeo.

Mesmo que você não leia o livro ou discorde do talento de JK Rowling como escritora, leve essas palavras dela para sua vida e deixe a imaginação criar um mundo melhor, pois só assim conseguimos atingir os objetivos mais impossíveis.


Até a próxima
Stanze

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Deixemos de entretanto e vamos logo para os finalmente...

Odorico Paraguaçu foi uma figura notória da televisão brasileira. Seu palavreado é exclusivo e sua obsessão em inaugurar o cemitério, ponto maior da sua campanha para prefeito de Sucupira, é hilária.

Dias Gomes criou um personagem que, embora fosse cínico, corrupto e interesseiro, era adorado pelo público. Isso porque sua genialidade criativa trouxe às telas um linguajar único e criativo. A isso se chama neologismo, que pode ser tanto a criação de uma palavra nova quanto dar um significado diferente a uma palavra já existente.

Alguns exemplos de neologismos são trekkie, termo usado para os fãs de Jornada nas Estrelas (Star Trek em inglês), ou papamóvel. Há vários tipos de neologismo, como os causados por derivação prefixal, tipo desfeliz, desinquieto,  ou derivação sufixal, como assinzinho, mesminho. O prof. Teotônio Marques Filhos, no site Por Trás das Letras, analisa os vários tipos de neologismos em um estudo sobre a obra Sagarana, de Guimarães Rosa. Confira aqui.

O neologismo é um recurso interessante para se usar em uma obra literária, desde que feito com consistência e coerência com o personagem.

Odorico Paraguaçu usava o neologismo com classe e, embora fosse um sinal da sua ignorância, era ao mesmo tempo um forte traço da sua personalidade e seu discurso "politiqueiro".

Só para lembrar:

"Errar é humanum est, como dizem os latinos"
"Um homem que se preze não deve deixar barato seu corneamento"
"Um herói altamente alto, à altura de prestar um grande beneficiamento à população de Sucupira! Com esse herói mórbido, eu vou proceder à cerimônia inauguratícia do cemitério que construí com amor mortuário..."
"Não há humilhamento maior que o de ver um homem que viveu vetustamente ser levado numa rede, balançando a sua defuntice..."
"E com esse licor eu homageio a nossa jenipapança"

(extraído de O Bem Amado, livro da série Grandes Novelas, publicado pela Editora Globo)

Até a próxima
Stanze


 

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Memorizando

Estou de volta após umas maravilhosas férias em Portugal e Espanha. Nesse período tive a oportunidade de visitar locais interessantíssimos, cheios de energia. Pequenas cidades com histórias fortes e passados presentes.

Memorizar significa fixar algo na memória, através de imagens, repetições ou até imaginação. Memória é também lembrança, recordação. No Inspiracionando de hoje quero provocar a memória de vocês através de algumas fotos tiradas nesses lugares pelos quais passei. Lugares como Idanha-a-Velha em Portugal em que a população jovem se reduz a 2 pessoas. Ou como Toledo, na Espanha, com suas pontes incríveis e atmosfera mística. Monsanto e Sordelha, ambas em Portugal, cidades praticamente museus, em que se respira saudade de tempos idos, e onde pode-se sentir as histórias encrustradas nas pedras que as formam e rodeiam.






Um casal de idosos, arabescos nos edifícios e pontes, ruas de pedra vazias, tudo isso nos traz visões de um passado próximo ou distante e, sobretudo, inspiração para muitos escritos.

Até a próxima,
Stanze  

sábado, 4 de setembro de 2010

Férias do Inspiracionando

O Inspiracionando estará de férias por algumas semanas. Estarei de volta na primeira semana de Novembro. Aproveitem para ler bastante e escrever com emoção e afinco. Voltarei com bastante inspiração e novidades!

Até a volta,
Stanze

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Tempo limite: uma idéia inspiradora

Trabalhar com limites de tempo muitas vezes é um ótimo instrumento para treinar a nossa mente para a criatividade espontânea. Às vezes, quando temos muito tempo para fazer algo, postergamos a tarefa para o último minuto e acabamos por ter um resultado insatisfatório.

Escrever é um processo. Muitas vezes temos o dom, mas somente a prática leva à perfeição. E a prática necessita de um estímulo. Esse estímulo pode ser visual, olfativo, auditivo, sensitivo ou, como no meu caso, limitativo. Quando tenho um limite certo e curto para realizar algo, a coisa flui com mais energia e força.

Para demonstrar na prática o que estou falando, participei uma vez de um concurso on-line que nos dava uma imagem e 15 minutos para criar algo em cima daquilo.  De um desses exercícios saiu o pequeno conto que transcrevo abaixo. A imagem era de um pescador sentado à beira de um lago azul e sereno. Chamei o texto de Pescador:

"Lá está ele novamente. Semana após semana ele vem e com aquela vara longa tenta me pegar. Eu sei que é comigo porque eu vi nos seus olhos, por baixo do boné que ele usa. Ele é chamado de pescador. Eu o chamo de Deus. Ele tem o poder da vida e da morte, por isso que lhe dei esse nome.


Mesmo assim, ele é bom. Eu já vi alguns maus vindo com redes grandes e levando as crianças e as senhoras sem nenhum discernimento. Mas este aqui não é assim. Ele se parece um pouco com Aquele que veio há séculos atrás. Eu li sobre Ele no Livro dos Peixes. Ele era poderoso e nosso povo pulava nos barcos ou aparecia do nada somente com um comando Dele. Ele também era um pescador. Mas Ele era um pescador de homens e almas.

Uma vez eu vi este aqui devolver um peixinho ao mar. Era uma sardinha que não acreditou nas palavras sábias dos velhos peixes e comeu aquele pedaço de carne pendurado da vara do pescador. Então o Deus o pegou cuidadosamente e exercendo seus poderes de perdão retornou-o ao mar. Eu fiquei surpreso com isso e daquele dia em diante o pescador ganhou minha admiração.

Até o dia em que o vi pegando o Bolhas Velhas e não o devolvendo. Ao invés, Bolhas Velhas foi parar em uma cesta e nunca mais o vimos. Foi horrível. Passei dias e dias pensando sobre aquilo e finalmente desisti e perguntei ao Sr. Tubarão porque o pescador havia agido daquela forma. Ele então me disse que foi o Bolhas Velhas que havia escolhido aquela maneira de ir. "Este é boa pessoa", disse-me o Sr. Tubarão, "o Bolhas Velhas terá um ótimo lugar no Paraíso dos Peixes."

Toda semana ele vem e toda semana eu estou aqui à espera dele. Ainda não é tempo. Eu sei disso e ele também o sabe. Ele vai jogar a linha e esperar. Ele sabe que eu o estou observando. Ainda sou jovem e ele também o é. Ambos temos paciência."

Quando trabalhamos com tempo limite, nem sempre conseguimos algo satisfatório na primeira vez. Talvez nem na segunda ou na terceira, ou nem sempre, mas com certeza treinamos o nosso cérebro a criar com rapidez e criatividade. Experimente, vale a pena.

Até a próxima,

Stanze

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O gênio da criatividade

Hoje deixo o Inspiracionando nas mãos (ou palavras) de Elizabeth Gilbert, autora do mega sucesso Eat, Pray, Love (Coma, Reze, Ame). A escritora fala sobre a genialidade e a pressão que existe nas pessoas criativas a manterem sempre o sucesso alcançado.

Elizabeth tem um humor fino e levanta pontos interessantes (com opção de legendas em português - clique em view subtitles e escolha português). Aproveite e deixe seu gênio chegar!



Até a próxima!

Stanze

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Nuvens de palavras

Procurando uma matéria para escrever o artigo de hoje, achei no blog de uma amiga e  professora de literatura norte-americana um link para o Wordle. O Wordle é um instrumento acessível on line e de graça que permite gerar "nuvens de palavras" extraídas de textos. Você pode inserir textos próprios, textos de um site ou até mesmo um nome de conta do del.icio.us e o programa destacará as palavras mais proeminentes formando um design que pode ser adaptado e redesenhado pelo usuário.

E qual a vantagem de tal instrumento? Além do visual interessante o Wordle pode facilmente servir de inspiração para a criação de novos projetos. Do destaque dado às conhecidas palavras uma nova e diferente idéia pode surgir. E que tal experimentar uma obra em conjunto? Junte vários textos, escritos por diferentes pessoas e, a partir das palavras em destaque, crie algo novo.

Com tudo que escrevi acima criei este Wordle:





Se quiserem tentar é super divertido. Liberem a imaginação e brinquem com as palavras no Wordle .

Até a próxima,

Stanze

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Círculo do Livro

Estou lendo esta semana um dos milhares de livros que adquiri através do antigo (e extinto) Círculo do Livro. O livro se chama Médicos em Perigo de Frang G. Slaughter. A história conta a trajetória de um médico recém-formado, com experiência em microcirurgia, que é convidado a fazer parte de uma clínica especializada e que possui clientes de elite. O romance lida com ética, ambição e drogas. Ainda estou na metade do livro mas até agora é interessante.

Pegando o livro nas mãos e apreciando a capa dura, o design e a qualidade do papel resolvi dedicar este texto de hoje ao Círculo do Livro.

O Círculo do Livro, para os que não o conheceram, era uma editora e clube literário que distribuía a seus sócios, a cada 3 meses, um catálogo com todas as publicações em oferta, a preços super acessíveis. O sócio tinha como única obrigação pedir pelo menos um livro nesse período.

Eu me lembro com muita saudade do prazer que eu, minha tia, minha avó e meu pai tínhamos ao folhear a revista e marcar com cruzes, quadrados, iniciais, os livros que iríamos pedir. Grande também era a expectativa de esperar pelos correios aquele pacote cheio de mundos novos, misteriosos, engraçados, intrigantes, que chegava até nós. Sortudo era quem estava em casa nessa hora e abria o pacote em primeira mão, recebendo a tarefa de distribuir os livros a seus respectivos donos.

O Círculo do Livro era uma maneira fantástica de estimular a leitura e, de certa forma, "obrigar" as pessoas a lerem. É óbvio que atualmente existem clubes dos livros, catálogos, livros com preços acessíveis, mas acredito que a "obrigação" de comprar um livro fazia com que a leitura se tornasse - de forma saudável - também obrigatória.

Eis aqui imagens de alguns dos livros que adquiri através do Círculo:








E vocês, também têm livros e saudades do Círculo?

Até a próxima,

Stanze

domingo, 1 de agosto de 2010

6 Quilômetros de Livros

Esta semana deixei propositadamente de escrever o Inspiracionando na sexta para escrevê-lo hoje, após minha visita à feira de livros de Deventer, a maior da Europa!

A minha aventura começou às 10:00 da manhã ao pegar um trem lotado em um Domingo ensolarado. Só isso já dá uma idéia do quanto a feira e os livros atraem as pessoas. Fico feliz. Há gente de todas as idades, algumas com sacolas e outras com malas que voltarão para casa cheias de livros.


Chegada à estação de Deventer
A "trilha do ouro" era indicada por placas


Além da feira, a cidade de Deventer também atrai por suas construções bem trabalhadas.







Em 6 quilômetros de cidade, à beira do rio, estendiam-se 878 estandes de livros dos mais variados, de revistas em quadrinhos a livros de bolso, de romances da Barbara Cartland a clássicos antiquíssimos (inclusive alguns livros raros do século XIX). Os preços variavam de 1 euro por livro a até mais de 300 euros, no caso dos bem antigos e raros.











Fora livros, havia também estandes mostrando várias técnicas diferentes de encadernação manual de livros e alguns móveis e utensílios de escrita, como este aqui abaixo:


Em cima do móvel há um globo com tinta e uma caneta tinteiro


Passei cinco horas na minha maratona literária e voltei para casa com uma sacola cheia. Agora vou curtir os meus livros.

Até a próxima

Stanze

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Monólogo: um diálogo saci

Uma das forças de uma história são os diálogos entre os personagens. Através do diálogo exerce-se muito bem o preceito de "mostre, não conte", essencial para que uma história se torne viva e interessante. Sobre diálogos vou falar muito aqui, mas hoje vou tratar de uma peculiaridade desse instrumento, o diálogo de uma perna só, ou seja, o monólogo.

Conhecemos muito o monólogo de peças teatrais, principalmente aquelas em que o personagem divaga sobre sua própria personalidade, como Hamlet, de William Shakespeare, que, com uma caveira nas mãos, pergunta-se sobre "ser ou não ser". Os discursos também são monólogos e eu até chegaria a ousar e dizer que as longas descrições são uma espécie de monólogo do autor.

Em geral esse instrumento aparece muito em partes da narrativa e raras vezes constitui a única voz presente em toda a história. Dolores Claiborne, de Stephen King, é um dos livros que mais considero característico de um monólogo verdadeiro. Algumas pessoas poderiam afirmar que livros escritos em primeira pessoa poderiam também ser considerados monólogos. Eu porém vejo uma diferença: livros escritos em primeira pessoa narram em geral os fatos sem criar a voz do personagem que fala. Já os monólogos, como em Dolores possuem a voz própria do personagem que conta a história.

Uma das características de um monólogo bem escrito é de que, além de uma voz própria, ele tenha os elementos básicos de qualquer narrativa, ou seja, início, meio (ou clímax) e fim. Ele deve contar uma história (ou mini-história) em si.

E a última dica de hoje sobre monólogo vale para qualquer tipo de escrita que você quiser utilizar: pense na sua audiência e utilize o instrumento e a linguagem adequados para seus leitores.

Abaixo transcrevo um monólogo que escrevi como exercício. Na verdade o persongem conversa com uma pessoa que já faleceu e, por isso, o que seria um diálogo transcorre como um monólogo.

UMA ROSA PARA ÂNGELA
(Stanze)

“Eu contei para Joana sobre nosso relacionamento. Ela merecia saber. Mas não se preocupe... eu mantive minha promessa. Ela não sabe que é nossa filha. De qualquer modo, não acho que isso faria bem a ela. Mas pelo menos ela pode compreender porque venho aqui todos os anos ... e também porque sua mãe ... desculpe, minha esposa... não gostava disso.

Eu também não aceitaria. Mas Carolina era uma pessoa maravilhosa.

Sim, eu voltei para ela como você me havia pedido, e ficamos juntos ... até sua morte. Na época eu tive medo da reação de Carolina mas, com Joana, eu tinha que tomar uma decisão mesmo que fosse contra o que meu coração pedia. Ela aceitou Joana como sua própria filha. Carolina me amava, você sabe...

Ela é linda ... a nossa filha ... igual a você.

Angela ... por que você teve que me deixar? Eu a odiei por isso. Você me deixou só no meio de uma guerra com um bebê nos braços mas, deixe pra lá... como eu poderia alguma vez odiá-la?

Sabe... eu entendo suas razões. Você estava certa. O bebê estaria melhor com um jornalista americano do que com uma guerrilheira da resistência.

A verdade é que eu fui um covarde. Por isso foi que eu nunca disse a verdade a Joana. Como eu poderia dizer a ela que um jornalista não foi capaz de encontrar sua mãe depois de janeiro de 1944? Carolina e Joana estavam se dando tão bem. Eu não podia destruir aquela harmonia. Eu fui um covarde... eu fui covarde até para, ao menos, tentar.

Sabe, vinte anos depois e eu ainda consigo falar italiano. Até ensinei algumas palavras a Joana.

Foi no topo desta montanha que nos encontramos pela primeira vez. Ainda me lembro da noite em que você me trouxe até aqui. Foi somente nessa ocasião que eu pude apreciar a beleza desta área... Vagliali a nossos pés ... a escuridão... e aqueles vagalumes por toda a parte como um tapete de estrelas estendido diante de nós. Naquela noite você me disse que jamais poderia deixar este local.
Eu lhe trouxe uma rosa… uma rosa amarela. Mas desta vez não é para você, Angela. É para sua prima.

Sim… eu descobri o seu pequeno segredo. Foi Maria quem morreu em seu lugar naquele dia. Ela não deveria estar lá. E sua identidade foi encontrada com ela.

Eu posso imaginar o quanto você deve ter sofrido. Vocês duas eram como irmãs. É óbvio que você tinha que usar a oportunidade. Maria gostaria de ajudar de qualquer modo. Você poderia desaparecer…e sobreviver à guerra…

É egoísmo meu, mas eu nunca pude lhe perdoar por não ter tentado entrar em contato comigo... ou com sua filha.

Então, há quatro anos atrás, a carta chegou. A carta anônima que dizia que você havia falecido e que estava enterrada aqui há muitos anos.

Foi um erro me mandar aquela carta, Angela. Dentro do meu coração eu sabia que você não estava morta. Mas eu lhe encontrarei. E então eu lhe darei a melhor rosa que eu jamais pude lhe dar... sua filha."

Até a próxima

Stanze

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Pequenos "prompts"

Em inglês usa-se muito o termo "writing prompt" para designar idéias que ajudam na inspiração. "Prompt" significa várias coisas, mas neste sentido quer dizer "rápido, imediato, algo que incita".

Hoje, e de vez em quando, postarei aqui alguns "prompts" para incitar a imaginação de vocês. Não precisam ser necessariamente usados para escrever, mas também para refletir, meditar ou somente apreciar. Se forem escrever usando as imagens ou frases, aconselho a agir de maneira impulsiva, ou seja, peguem lápis e papel e deixem as palavras fluírem de maneira natural. Correções e a utilização de palavras bonitas podem ser feitas depois. O importante é não perder aquele momento imediato e incitador que a frase ou imagem possa provocar.

Alguns "prompts" para hoje:

1 - Faça uma lista de cinco coisas que deseja experimentar e cinco que não pensa nem em tentar;

2 - Inspire-se na imagem abaixo:


3 - Aqui na Europa é verão, enquanto no Hemisfério Sul é inverno. Para fugir um pouco do frio ou, ao contrário, para inspirar-se nele concentre-se em:
- cheiros do inverno/verão;
- imagens do inverno/verão;
- sons do inverno/verão;
- gostos do inverno/verão;
- sensações do inverno/verão.

4 - Você e um amigo decidem entrar em um clube à noite, já fechado, para nadar. Após pularem os portões, atiram-se na piscina. É nesse momento que descobrem um corpo flutuando. E, para piorar as coisas, é de alguém conhecido. Descreva essa cena. (writing prompt retirado do Writer's Digest em http://www.writersdigest.com/)

Até a próxima e boa inspiração,

Stanze

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Um Pequeno Prólogo

Comecei a ler um livro que tem um prólogo e foi isso que me inspirou a escrever sobre essa técnica aqui no Inspiracionando. Há vários livros com e outros sem prólogo deixando claro que esse pré-capítulo é opcional. Mas para quê e quando usar essa opção?

O prólogo pode ser usado quando há necessidade de uma explicação prévia. Por exemplo, se a história tem um enredo cuja essência trata de algo que teve seu início em outra época ou país, o prólogo pode ser usado para introduzir a história a partir desse ponto. Outra utilidade para o prólogo é introduzir um pedaço da narrativa que não se encaixa propriamente no enredo. E uma coisa interessante nos prólogos é que eles podem simplesmente desrespeitar a lei do Ponto de Vista. O prólogo pode ser escrito em um PdV completamente diferente do resto da narrativa.

Infelizmente nem todos os prólogos são bem utilizados e algumas vezes o autor usa como prólogo apenas um pedaço do próprio livro, palavra por palavra, como uma isca para atrair o leitor.

Mas, precisamos realmente de um prólogo ou tudo o que vamos contar pode ser encaixado diretamente no enredo? Marg McAlister, em um artigo no foremostpress.com, sugere que você faça as seguintes perguntas a si mesmo para saber se seu livro tem necessidade de um prólogo:

1 - O que acontece se eu chamar o Prólogo de Capítulo 1? A história fluirá suavemente a partir desse ponto? (Se a resposta foi sim então jogue fora o prólogo)

2 - Eu necessito dar aos leitores uma certa quantidade de informação para que a história faça sentido? (Se a resposta é sim então considere criar um prólogo)

3 - Eu penso em usar o prólogo apenas para fisgar os leitores? (Se a resposta é  sim pergunte-se se isso não pode ser feito de maneira efetiva no Capítulo 1)

Para ler todo seu texto (em inglês), clique aqui.

Uma das melhores maneiras de entender melhor o uso efetivo do prólogo é lendo prólogos de diferentes autores e obras e analisando os que funcionam e os que não funcionam e porque.

 Até a próxima

Stanze

PS: Na semana passada o Inspiracionando não foi atualizado porque tive mais uma vez ilustres visitantes.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Contos de Guerra

A guerra, principalmente a II Guerra Mundial, tem sido assunto de muitos contos e romances, alguns reais, vários fictícios. A geração dos meus pais viveu a II Guerra como adolescente e, com olhares inocentes de quem via a guerra de longe, meu pai era um devorador de todos os assuntos relacionados à matéria. Esse gosto passou para mim e recentemente li um livro de crônicas de Joel Silveira, O Inverno da Guerra, editado pela Objetiva, como parte de uma coleção chamada Jornalismo de Guerra.

Joel Silveira foi correspondente brasileiro na Itália, enviado por Assis Chateaubriand como repórter pelos Diários Associados, durante os anos de 1944-45. O livro é composto de várias crônicas e artigos, em tons variados, contando a tragédia da guerra, mas com doses de humor e leveza, que Joel enviava ao Brasil do front italiano. A experiência na Itália mudou a vida do jovem repórter que, como ele mesmo diz, chegou "à Itália com 26 anos e voltei com 40, embora lá só ficasse pouco mais de oito meses. Ao contrário do poeta, não foi exatamente por delicadeza que naqueles quase nove meses perdi parte de minha mocidade, ou o que restava dela."

Alistair MacLean é um veterano em escrever romances passados na guerra. De seus livros vários filmes foram feitos, como Os Canhões de Navarone, O Desafio das Águias, a Força 10 de Navarone, e muitos outros. Seus romances são histórias de ação, aventura e heroísmo. Um link com sua bibliografia e sinopses pode ser encontrado aqui. (em inglês).

É calro que, falando da II Guerra não se poderia deixar de mencionar o drama judeu. Em Holocausto, Gerald Green relata, com base em várias pesquisas, os terríveis fatos acontecidos nos campos de concentração de Babi Yar, Sobibor e Auschwitz. Seu livro virou uma série da NBC em 1978 e somente nos EUA alcançou uma audiência de 120 milhões de espectadores.

Bem menos impressionante e em linhas mais suaves temos também O Menino do Pijama Listrado que narra a história de um garoto, filho de um comandante nazista de um campo de extermínio, que se torna amigo de um garoto judeu. O pijama listrado se refere ao uniforme que os judeus tinham que usar nos campos e nesses termos fantasiosos o garoto alemão não percebe a dura realidade que é o trabalho do seu pai.

Morando na Holanda eu não poderia, é claro, deixar de citar aqui um dos livros mais chocantes de todos aqueles escritos sobre a II Guerra. O Diário de Anne Frank é um nó na garganta. O diário da adolescente alemã que se refugiou com a família no anexo secreto do escritório de seu pai, em Amsterdam, não fala diretamente dos horrores físicos da guerra. Pior, fala dos horrores psicológicos de um resto de vida vivido às escondidas, com medo e restrições, muito embora retratado nas palavras doces e curiosas de uma adolescente. A casa é hoje um museu e o seu diário se encontra lá. É possível dar uma olhada virtual no anexo através deste link (em várias línguas): http://www.annefrank.org/nl/
 
Termino o artigo de hoje com as palavras de Joel Silveira: "A guerra, repito, é nojenta. E o que ela nos tira (quando não nos tira a vida) nunca mais nos devolve." 

Até a próxima

Stanze

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Um mantra a Saramago

Hoje eu tinha decidido escrever sobre algo diferente, mas a notícia de que o mestre Saramago havia deixado este mundo me conduziu a fazer uma pequena ode a este grandioso escritor.

Apaixonei-me por Saramago há alguns anos atrás quando a curiosidade me levou a ler Ensaio Sobre a Cegueira. Curiosidade esta causada por dois motivos:
1 - Saramago era um prêmio Nobel de Literatura e;
2 - O livro que eu tinha nas mãos mantinha a grafia original de Portugal



Confesso que no princípio me assustei com aquele estilo de escrita corrido, com vírgulas onde se esperariam pontos ou travessões. Depois, a história foi me envolvendo e a leitura fluía como um mantra sonoro e cheio de sentido. A ceguidão que assola aquele mundo em que o romance se desenvolve vai além da cegueira física e, nesse entremeado de palavras, Saramago nos desnuda a cegueira humana que existe em cada um de nós.


A partir daquele momento o escritor português havia me conquistado. Meu próximo livro foi As Intermitências da Morte onde a primeira alegria causada pela greve da morte é logo superada pelo excesso da vida e da imortalidade.

Em O Homem Duplicado o autor mostra mais uma vez a sua capacidade de, na essência das suas histórias, mostrar o arcabouço da natureza humana. Um homem descobre que existe um sósia seu, que não é seu irmão gêmeo, sendo no entanto mais do que se o fosse, pois este indivíduo é uma cópia perfeita sua. O personagem (ou personagens) não consegue conviver com sua duplicidade e luta pelo direito de ser um ser único.

Ainda tenho um longo caminho a percorrer nas obras deste que considero um dos grandes escritores deste século. Comentei somente os livros que li e aproveito para terminar este artigo com uma passagem de Ensaio Sobre a Lucidez que acho que descreve bem o que passei a chamar de mantra de Saramago:

"Por que está a fazer isto por nós, por que nos ajuda, Simplesmente por causa de uma pequena frase que encontrei num livro, há muitos anos, e de que me tinha esquecido, mas que me regressou à memória num destes dias, Que frase, Nascemos, e nesse momento é como se tivéssemos firmado um pacto para toda a vida, mas o dia pode chegar em que nos perguntemos Quem assinou isto por mim.

... Essas palavras, que, provavelmente, tal como se apresentam, ninguém as haveria dito antes, essas palavras tiveram a sorte de não se perderem umas das outras, tiveram quem as juntasse, quem sabe se o mundo não seria um pouco mais decente se soubéssemos como reunir umas quantas palavras que andam por aí soltas."

Obrigada Saramago por tornar este mundo um pouco mais decente ao juntar palavras que andavam soltas pelo mundo afora.

Stanze

sexta-feira, 11 de junho de 2010

E a bola rola!

Hoje a Copa do Mundo de 2010 teve início na África do Sul. Para os torcedores de futebol um grande evento que a cada quatro anos tem seu lugar na preferência dessas pessoas. Para muitos outros o evento passa até desapercebido, se é que isso é possível com toda a propaganda que cerca o Mundial. Mas, para um continente inteiro esta Copa é algo muito especial.

A África, que geralmente atrai olhares penosos do mundo pela sua história de guerras, fomes e miséria, provocará neste mês que se inicia hoje outros sentimentos nas pessoas: emoções, vitórias, gols e, principalmente, capacidade. A África conseguiu atrair para si um espetáculo mundial, coisa de países ricos, desenvolvidos ou pelo menos em desenvolvimento. E está mostrando ao mundo que tem um povo bonito, inteligente, capaz e muito, muito orgulhoso do seu Continente, como as imagens de Mandela e Desmond Tutu deixam ver.

Para o Inspiracionando de hoje eu convido os autores em aspiração como eu a entrarem no mundo dos esportes, dos desafios, das derrotas e vitórias, da superação de obstáculos e do prazer de participar. Inspire-se nos jogos, mas não se limite ao futebol. A história dos esportes é um campo cheio de inspirações.

Algumas idéias para aquecer os miolos:
1-imagine que seu personagem treinou por muito tempo para participar de uma competição mundial e no último instante se contunde e não pode participar;
2-imagine um personagem que fica de fora de sua última competição como profissional porque seu país boicota o evento;
3-o seu personagem naturalizou-se por motivos políticos e agora tem que enfrentar seu país de origem;
4-meia hora antes de uma importante competição o seu personagem recebe uma notícia trágica;
5-seu personagem vence uma competição apesar de todas as dificuldades.

Boa Copa e boa inspiração!
Stanze
 

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Um olhar de escritor

Visitando hoje uma feira de produtos e coisas da Itália tirei a inspiração para o texto desta sexta. Lembrei-me, ao passear pelos stands e ver a "praça Venezia", de dois exercícios que fizemos em Veneza durante um workshop de literatura. O primeiro consistia em passear pela cidade, que naquela época estava apresentando uma exibição de Arte Moderna a céu aberto, com esculturas espalhadas por toda a parte, escolher um visual e escrever sobre ele.

Eu me apaixonei por uma face enorme, deitada de lado no chão, oca na parte de trás e com um olhar vazio na parte da frente. Dessa visão, e com a idéia do exercício na cabeça, eu criei este texto, que permaneceu até hoje como um borrão (os textos que se seguem foram traduzidos a grosso modo dos exercícios originais em inglês, o qual foram realizados na maioria das vezes em 15 minutos):

"Tenho caminhado pelas ruas de Veneza, seguindo o guia turístico que tenho nas mãos. A Ponte Rialto, pendurada sobre o Canal Grande, cheia como sempre dos turistas atraídos pelas barracas de souvenirs. Passei pela Piazza San Marco e os sons da orquestra tocando ao vivo me fez parar. Senti em minha boca o sabor do Valpolicello que dividi com meu pai há 10 anos. Nós tínhamos então andado de café em café seguindo a próxima orquestra a tocar. Deixei que as lembranças desaparecessem vagarosamente com as últimas notas do piano antes de retornar à minha lista de atrações.
No meu caminho para a Academia eu vi as cabeças da Bienal. Parei para observá-las. Elas não faziam parte da minha lista-de-coisas-para-ver mas estavam lá e eu tinha que vê-las. Assim como certos momentos na minha vida elas estavam simplesmente lá, deitadas, impossíveis de serem ignoradas. De compromissos em compromissos que moldam a nossa vida, as cabeças tinham aparecido como os momentos que surgem do nada e, como elas, também são vazios e precisando ser preenchidos. Momentos que havia ignorado até então, como se foram idéias daquelas cabeças ocas. Joguei fora o meu guia. Já não era mais ncessário. Eu sabia agora. Eu havia vindo a Veneza trazida por aquelas cabeças."

O segundo exercício consistia em sentarmos numa praça e observamos as pessoas à nossa volta. Deveríamos escolher alguma e escrever. A idéia era observar o momento em que a pessoa se revelasse, mostrasse alguns hábitos e nos tocasse como escritores. Eis o que surgiu da minha caneta ao observar uma senhora que caminhava vagarosamente se apoiando pelas paredes:

"Um passo após o outro. Uma pausa. Então um movimento vagaroso para ajustar a bengala. Seu andar difícil sustentado pela mão que se apóia na parede. Mais quatro passos. Outra pausa. O caminho longo não era mais longo que sua própria vida. Seu corpo frágil, coberto por um casaco comprido, tornava-se pesado pelos anos. Ela caminhava devagar, tocando as paredes da sua velha Veneza, sentindo sua textura numa troca empática de experiência. 'Você é mais velha do que eu, mas viverá mais', ela deve ter pensado.
Ela caminhou por entre as mesas de um restaurante espalhadas pela praça, mais devagar ainda agora, já que perdera momentaneamente o apoio das suas paredes amigas. Ela atravessou sem olhar as faces dos clientes. Então, encontrando novamente suas paredes, ela sorriu. Pessoas estranhas a assustavam, mas não as paredes. As pessoas vivem e morrem, como muitas haviam feito em sua vida. Mas não as paredes. Elas estarão lá mesmo depois que ela se vá. Elas estarão lá para sempre."

Talvez aquela senhora não fosse de Veneza, nem tampouco andasse sempre se apoiando nas paredes. Talvez ela não estivesse pensando em nada ou fosse triste ou alegre. Não importa. No momento em que ela começou a caminhar meu olhar foi atraído para sua figura. Ela, naquele momento, se mostrou para mim. E essa era a idéia. Criar do visual.

Esta técnica pode ser repetida de várias maneiras, através de fotos, vídeos ou mesmo pessoas. Um escritor deve ter um olhar especial e ver além do que está na sua frente. Pegue fotos, observe pessoas, tente descobrir o que está por trás de um rosto, de um gesto ou de uma imagem. Crie!

Termino hoje com algumas dicas interessantes que me foram passadas pela minha professora em Veneza.

1-Não tenha medo de mostrar a si próprio;
2-Brinque de teatro, ouse viver a vida dos outros;
3-Não aceite nada como terminado. Mude-o;
4-Procure flores em lugares secos;
5-Se sonhar com algo, escreva;
6-Quando estiver escrevendo sobre determinado assunto, crie um clima: música, imagens, cheiros;
7-Continue mesmo que pareça estranho;
8-Tente criar anjos e demônios com a mesma intensidade;
9-Se puder, viaje o máximo que puder;
10-Transforme suas más experiências em grandes personagens ou histórias;
11-Faça com que um minuto a mais valha por uma hora.  

Até a próxima,

Stanze


    

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O que há em um Nome?

Inspirada em um texto que publiquei em meu outro blog http://daquiprai.wordpress.com/ resolvi conversar hoje sobre a importância (ou não) dos nomes dos personagens que criamos.

Se você é um devorador de livros como eu deve facilmente reconhecer alguns destes nomes: Scarlet O'Hara, Capitão Rodrigo, Heathcliff, Zorba, Dona Flor, etc. Esses personagens ficaram marcados em nossas memórias não somente pelo caráter que tinham, mas também pelo nome com o qual foram batizados pelo autor de suas histórias.

Nomes podem representar épocas, momentos históricos e regiões que se adequam ao seu personagem. Por exemplo, dificilmente um José de Ribamar será um personagem cujas raízes, se não o próprio nascimento, estejam ligados a outro local que não o Maranhão. Em outro conceito, um personagem chamado Elizabeth nos levaria a imaginar sua descendência britânica, talvez nos traga à mente atitudes refinadas ou quiçá um chá das cinco. Provavelmente um personagem norte-americano não se chamará , a não que ser que ele seja um papagaio carioca!

Não quero aqui dizer que um autor não possa ser audacioso e criar nomes fora de época, local ou circunstância para seus personagens. Apenas deve-se lembrar que o leitor curiosamente se indagará o motivo dessa discrepância nominal. Esteja então como autor preparado para justificar o seu personagem nestes casos. E exatamente isso talvez faça dele um personagem memorável! Lembre-se: criatividade é  importante mas credibilidade é a única regra que deve ser seguida.

Em Characters, Emotions and Viewpoints, Nancy Kress ressalta que a plausibilidade é essencial para dar crédito ao autor. Ela cita por exemplo que o Departamento Policial de Nova York é predominantemente composto de policiais descendentes de irlandeses, italianos, hispânicos e afro-americanos. Se você escrever um livro nessa área e nomear seus personagens todos com nomes russos levará o leitor (que conhecer a área, é lógico, mas jamais subestime o alcance dos seus livros ou o conhecimento de um leitor) a questionar o quanto você sabe do assunto sobre o qual escreve.

Nomes também podem repesentar traços físicos ou qualidades. Essa escolha nominal, presente em algumas obras mais antigas, é mais aceita hoje em dia somente em livros infantis, infanto-juvenis ou paródias. Por exemplo, Harry Potter tem companheiros de nomes marcantes (pelo menos no original em inglês), como Draco Malfoy, que lembra dragões e maldade; ou Luna Lovegood que via tudo com outros olhos.

Se sua história envolver vários personagens que contracenam frequemente, tome cuidado ao nominá-los. O leitor pode se confundir e cansar da história se tiver que ficar constantemente tentando lembrar quem é Elisa, Alícia ou Analicia.

Finalmente, existem personagens sem nome. Em The Mother (A Mãe), Pearl Buck, vencedor do Pullitzer e autor de A Boa Terra, não dá nome ao seu personagem principal. A história se passa na China, antes da Revolução de Mao e a mãe é simplesmente a mãe. Da mesma forma, as outras mulheres da história são também conhecidas como "a velha mulher" ou a "esposa do primo".

Para concluir, eis aqui alguns exercícios extraídos do livro So You Want to Write a Novel, de Lou Willett Stanek, que podem ajudá-lo(a) a pensar sobre nomes e a importância destes na vida de seu personagem:
- E se o seu personagem mudar para uma outra cidade e escolher um nome novo para si próprio?
- E se o pai de seu personagem resolveu chamá-la Stevie embora ela fosse uma menina?
- E se o bandido e o herói do seu livro possuem o mesmo nome?
- E se o seu personagem tem um nome que detesta?

Se você conhece alguns nomes interessantes e curiosos, divida conosco. Comente!

Até a próxima,

Stanze  

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Um contador de histórias

Recentemente terminei mais um livro de James Michener, Os Rebeldes (original em inglês, The Drifters). Embora este último não tenha sido um dos meus prediletos, a obra de Michener me fascina pelo tanto que se aprende com seus livros.  

Esse escritor norte-americano, falecido em 1997, aos 90 anos de idade, escreveu mais de 40 livros e tornou-se famoso pelas pesquisas aprofundadas que realizava ao escrever seus romances.  

Suas obras são caracterizadas pela história de sagas e gerações em determinada época ou localização geográfica, nas quais o autor incorpora elementos históricos reais. Em Havaí, por exemplo, o próprio arquipélago é um dos personagens principais do livro, que começa com a explosão vulcânica submarina que criou as ilhas. Baía de Chesapeake nos traz fatos interessantíssimos sobre os indígenas norte-americanos. Polônia  nos leva ao passado daquele país e nos conta a sucessão de invasões e reconquistas que sofreu ao longo de sua história.

James Michener foi abandonado quando criança e adotado por uma viúva quaker chamada Mabel Michener. Embora pobre, a sua mãe adotiva adorava livros e passou esse gosto para o pequeno Michener. Aos 20 anos, o escritor já havia conhecido quase todos os estados dos Estados Unidos, experimentando diferentes tipos de emprego. Ganhou uma bolsa de estudos para a Escola Swarthmore e se formou com altas referências. Cursou a Universidade St. Andrews, na Escócia, e tornou-se posteriormente Professor Assistente de História na famosa Universidade de Harvard. 

De suas experiências na guerra, nas Ilhas Salomão, originou-se seu primeiro livro, Contos do Pacífico Sul, que enviou anonimamente para um editor com o qual havia trabalhado, e que terminou por lhe dar o Prêmio Pulitzer em 1947, e tornar-se um musical de sucesso por anos consecutivos na Broadway.

Além da parte histórica que seus livros trazem, vários assuntos temáticos também são explorados. Em Os Rebeldes, a geração hippie da era da guerra do Vietnam e seus conceitos é explorada ao acompanharmos as aventuras, viagens e desventuras de 6 jovens através de vários locais considerados "cult" da Europa naquele tempo: Espanha, Portugal, Marrocos e Moçambique.

Considerando-se que o livro foi publicado em 1971 é interessante conhecermos o pensamento dos jovens adolescentes daquela época e visualizar os lugares ermos aos quais eles viajam, como por exemplo, o Algarve em Portugal, e comparar com a realidade atual. Romances históricos são particularmente atraentes quando se conhece pessoalmente o lugar descrito neles.

Vários exemplos de um autor como Michener devem ser seguidos por escritores aspirantes:
1 - nada é impossível. Michener foi abandonado quando criança e teve uma infância pobre. Entretanto, tornou-se um autor renomado, viajou por diversos locais, foi professor de uma das Universidades mais famosas do mundo e ganhou um Prêmio Pulitzer;
2 - pesquisa é essencial. Um romance histórico, mesmo que não contenha fatos reais, deve levar o leitor ao tempo da história, seja através das roupas, das tradições, mas também, e principalmente, através da maneira de falar e se expressar de seus personagens.

Para quem gosta de conhecer fatos históricos envolvidos ao mesmo tempo com uma boa narrativa, experimentem Michener.

Até a próxima,
     
Stanze   

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Na próxima sexta

Olá amigos leitores

Hoje tenho visitas do Brasil por isso não pude preparar nenhuma matéria para esta sexta. Na próxima estarei de volta.

Stanze

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Espelho, espelho meu...

...existe alguém mais completo do que eu?

O meu pai possuía um sapato que ele dizia ser de cromo alemão e pelo qual tinha um misto de respeito e orgulho. Esse sapato era usado em todas as ocasiões importantes de sua vida e era algumas vezes motivo de discussão entre ele e minha mãe, que preferia que meu pai usasse algo mais novo, ao que ele retrucava dizendo que aquele era de cromo alemão e, portanto, inigualável e insubstituível.

Desse fato posso constatar que meu pai era conservador e tradicionalista, além de amante das coisas boas. Da mesma forma passamos para os leitores algumas características internas dos nossos personagens através de sua aparência exterior.

Já comentei em artigos anteriores sobre a importância de se conhecer os nossos personagens. Hoje quero dividir alguns exercícios e idéias sobre a apresentação física desses personagens dos nossos contos e histórias. Como escrevi, e é sabido por todos, um personagem é alguém que conhecemos bem, às vezes a fundo, às vezes superficialmente, em casos de personagens secundários. Nem tudo que sabemos sobre eles precisa ser trazido à tona em um romance, mas é necessário que nós autores o conheçamos bem. 

Uma das técnicas existentes para que se tenha sempre em mente alguns aspectos essenciais dos nossos personagens é o que em inglês chamamos de "character's bio", ou seja, uma espécie de ficha contando dados e fatos sobre seu personagem.

Hoje vou considerar neste artigo somente a descrição física e roupas. Quando você cria um personagem para a sua história ele deve ser consequente com o enredo. Imaginem por exemplo uma história em 2010 sobre um veterano da II Guerra Mundial que o descreva como tendo cabelos loiros, porte esbelto e atlético, etc... esse veterano tem no mínimo uns 80 anos. Espera-se pelo menos rugas, cabelos brancos, andar pausado, talvez meio curvado. A não ser que você esteja escrevendo uma história de ficção científica e o seu personagem é um viajante do tempo ou encontrou a Fonte da Juventude não dá para encarar o esbelto de cabelos loiros como um veterano da II Guerra em 2010!

Para criar a sua ficha você pode simplesmente imaginar os detalhes que quiser ou copiar alguma ou várias pessoas. Um exercício interessante é sentar numa praça, bar ou café, com seu caderninho de anotações e observar. Olhe as pessoas que passam ou que estão no mesmo local. Como elas estão vestidas? Como elas se parecem? Têm algum tique, alguma mania? Têm algum defeito físico? O modo como andam demonstra segurança, timidez? A roupa que vestem é sóbria, audaciosa, na moda ou tradicional? Anote tudo que achar interessante e depois componha um personagem com esses dados.

Sua ficha pode parecer assim:
Nome:
Sexo:
Idade:
Altura e Peso:
Cabelo:
Rosto:
etc,etc,etc...

e também,

Nos finais de semana ele/a gosta de vestir:
Em casa ele/a prefere usar:
Sapatos velhos são algo que ele/a ama/detesta/usa porque não tem opção:
etc,etc,etc...

Agora vamos apresentar esse personagem ao mundo. Hoje em dia, com a dinâmica das coisas, televisão, internet, torpedos, celular, etc, o leitor atual não gosta de muitas descrições e detalhes. Depois, uma das regras básicas da literatura é: MOSTRE, NÃO CONTE. Por isso, seja imaginativo ao apresentar seu personagem à sociedade. 

Compare estes exemplos:

Exemplo 1: descrição direta
João era gordo e tinha olhos melancólicos.

Exemplo 2: descrição indireta
João acomodou-se no banco do ônibus como pôde. Não estava confortável e sentia que metade de seu corpo espremia o seu vizinho. Olhou melancolicamente como se se desculpando pelo incômodo que causava.

Exemplo 3: descrição indireta por terceiros
Miguel espremeu-se o mais que pôde na direção da janela. Aquele homem ocupava o banco inteiro e avançava para o seu espaço. Olhou-o com uma leve irritação, mas seus olhos tristes lhe sustaram as palavras. "Eu posso resistir um momento, enquanto esse homem tem que conviver com situações como essa o tempo todo",  pensou, virando o rosto para a janela.

O que lhe parece melhor como leitor? Nos exemplos 2 e 3 não usei a palavra "gordo" que é a característica principal de João, mas ficou claramente demonstrado que ele se tratava de uma pessoa grande e, pela reação causado no personagem do número 3, está óbvio que se trata de uma pessoa volumosa.

E assim também se trabalham as roupas dos personagens. O guarda-roupa é uma fonte de características e qualidades a serem desenvolvidas e exploradas. Dê uma olhada em seu próprio guarda-roupa e veja o que as suas roupas e acessórios lhe dizem sobre sua própria personalidade. Imagine roupas e vista seus personagens com elas. Veja como eles se parecem. Troque as roupas e veja o que cai melhor. Imagine-se numa boutique variada em que todo um guarda-roupa se encontra à sua disposição: roupas antigas, roupas exóticas, extravagantes, conservadoras, futurísticas. Viaje nesse desfile e dê vida a seus personagens.

Só um detalhe tem que ser observado: nada de exageros. Lembre-se que seu personagem é uma pessoa real e, por mais exótica que ele seja, tem que ser consistente e realista para que o leitor se identifique e viva intensamente sua história.

Até a próxima,

Stanze