Esta semana li um artigo interessante em um jornal online de literatura. O autor discorria sobre contos e demonstrava a utilização da técnica do sweep.
O termo sweep, em inglês, significa, entre outras coisas, uma dimensão mais larga e abrangente. Nos contos o autor não tem espaço para trabalhar exaustivamente um personagem ou um tema. O foco tem que ser preciso e imediato. Quanto mais curta a história, mais rápido o leitor tem que conhecer o enredo, o papel do personagem principal e o que ele deseja.
A técnica do sweep dá a oportunidade ao escritor de acrescentar em poucas linhas essa dimensão e profundidade que o personagem ou a história necessitam. Em um simples parágrafo o leitor pode conhecer o que realmente está por trás daquele enredo e o impacto que isso causa na história e no personagem.
Um exemplo prático seria uma história que envolve um ritual indígena. Digamos que um certo artefato seja usado nesse ritual. O autor poderia em um parágrafo usar um sweep para explicar a importância desse artefato para os indígenas e como ele tem sido usado de geração em geração, adicionando a visão da cultura nativa. Depois, ele retorna novamente para a história atual. O escritor aproveitou para criar uma dimensionalidade àquele enredo que fará com que o leitor compartilhe de forma mais profunda a experiência do personagem naquele momento.
O sweep pode ser praticamente visualizado como um zoom. No momento em que ele acontece o escritor dá um zoom out, ou seja, afasta a cena e traz a câmera para abranger o cenário como um todo. Retornando à história ele faz um zoom in, focando o enredo principal.
O sweep pode acontecer em qualquer momento da narrativa, tanto no começo quanto no meio. O importante, entretanto, é observar a sua introdução e saída. Quando no começo do conto o cuidado com a introdução não é tão essencial, mas, se ocorre no meio, o sweep tem que ser escrito de modo a fazer parte da história. Um dos maiores riscos de usar essa técnica é o perigo da divagação e generalização, incorrendo em distanciamento do enredo principal.
Criando aqui um exemplo rude da cena do ritual indígena um sweep seria algo assim:
"O cacique Capixaba se aproximou da cuia ritual, enquanto era observado pelos outros guerreiros dispostos ao seu redor.
Para os índios guajajaras aquela cuia representava a união dos deuses da floresta e dos céus. A água da chuva que era colhida nela representava a bênção dada por Huimatã. A cuia ficava sempre no centro da aldeia e quando transbordava, suas águas eram acolhidas pela Mãe Terra, consumando a junção dos deuses. Era então o momento da caça, da pesca e da colheita, todos abençoados por aquela união divina. A cuia era, para aqueles índios, um símbolo sagrado passado de geração a geração.
Capixaba pegou a cuia com as mãos e elevou-a aos céus."
Como falei acima esse texto é só um exemplo a grosso modo da técnica do sweep. O que vai acontecer com a cuia adquire uma importância bem mais impactante quando o leitor sabe que aquele objeto faz parte de uma cultura e tradição enraizadas. O sweep engrandece o conto em poucas palavras.
Até a próxima
Stanze
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
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