sexta-feira, 23 de abril de 2010

Os nossos Pés de Laranja Lima

Ao olhar a minha folhinha do Sagrado Coração de Jesus observei que hoje é o Dia Mundial do Livro. Interessante que pensei em escrever sobre os livros que moldam a nossa infância e, juntando essa idéia com este dia, faço uma homenagem bastante significativa aos nossos amigos de papel (e digitais também).

A maioria das crianças começa seu contato com os livros através das histórias contadas pelos pais, avós, babás, tias e tios, até que a curiosidade supera barreiras e elas aprendem a ler e escolher as próprias histórias que lhes fazem viajar.

E assim foi comigo. O Meu Pé de Laranja Lima foi um dos livros que marcou a minha infância. O começo dessa fantástica obra literária já nos faz sonhar:

"A gente vinha de mãos dadas, sem pressa de nada pela rua. Totoca vinha me ensinando a vida. E eu estava muito contente porque meu irmão mais velho estava me dando a mão e ensinando as coisas..."

José Mauro de Vasconcelos foi um dos meus Totocas, e, como Zezé, eu aprendi a vida nas histórias que lia, pois como o mestre nomeou um dos seus capítulos, De pedaço em pedaço é que se faz ternura.

E quantos e quanto Pés de Laranja Lima são cortados ao longo da nossa vida fazendo com que as lágrimas de Zezé nos encham também os olhos:

"Papai tinha me seguido e viu que os meus olhos se encontravam de novo molhados. Quase se ajoelhou para falar comigo.
- Não Chore, meu filho. Nós vamos ter uma casa muito grande. Um rio de verdade passa bem atrás. Grandes árvores e tantas, que serão só suas. Você pode fazer, armar balanços.
Ele não entendia. Ele não entendia. Nenhuma árvore deveria ser tão linda na vida, como a Rainha Carlota.
- O primeiro a escolher as árvores, será você.
Olhei os seus pés, os dedos saindo dos tamancos. Ele era uma velha árvore de raízes escuras. Era um pai-árvore. Mas uma árvore que eu quase não conhecia.
- Depois tem mais. Tão cedo não vão cortar o seu pé de Laranja Lima. Quando o cortarem você estará longe e nem sentirá.
Agarrei-me soluçando aos seus joelhos.
- Não adianta, Papai. Não adianta...
E olhando o seu rosto que também se encontrava cheio de lágrimas murmurei como um morto:
- Já cortaram, Papai, faz mais de uma semana que cortaram o meu pé de Laranja Lima."

E quem não leu Coração do italiano Edmondo de Amicis e teve vontade de também transformar suas redações e histórias de colégio em pequenas literaturas?

"Coragem... pequeno soldado do imenso exército. Os teus livros são as tuas armas, a tua classe é a tua esquadra, o campo de batalha é a terra inteira, e a vitória é a civilização humana."

Olavo Bilac também marcou profundamente a minha infância. Uma das raridades que tenho em casa é um livro de poesias infantis que foi da minha avó e data de 1913. Os poemas mais presentes para mim eram A Avó, Pássaro Cativo e Plutão. Para apreciar esses fantásticos versos e outros mais, encontrei uma cópia do livro Poesias Infantis disponível na internet.

É claro que existem muitos e muitos outros livros que moldaram o meu jeito de escrever, ver e viver a vida.

Para encerrar o texto de hoje, parodio Zezé:  "E foi assim que eu ganhei a minha roupa de poeta. E eu fiquei lindo!..."

Até a próxima,

Stanze

3 comentários:

  1. Fernanda,

    Que bom que você começou com o José Mauro de Vasconcelos. Eu também!

    Com quatro anos fui com minha mãe para a Espanha, e fiquei morando por lá até os nove anos, quando voltamos ao Brasil. Minha avó teve um grave problema de saúde e minha mãe, resolveu que deveria voltar a sua terra natal para acompanhar o estado de saúde de sua mãe. Então eu fui com ela e minhas duas irmãs ficaram aqui com meu pai, que também era espanhol. Eu e minhas irmãs nascemos no Rio de Janeiro.

    Ao voltar ao Brasil logo entrei para a escola, mas eu já não falava mais o português. Falava o “portuñol”. Mesmo assim consegui passar de ano com 100 (naquela época era esta a pontuação máxima) em todas as matérias, inclusive português. Claro que a professora me ajudou muito, pois entendia o meu problema e levava isso em consideração. E ao encerramento do ano letivo ela me deu meu primeiro livro, um presente que lembro até hoje, ”O palácio japonês”, de José Mauro de Vasconcelos, com lindíssimas ilustrações coloridas de Jaime Cortez, a quem eu passei também a admirar a partira daquela data.

    Depois li também o “Meu pé de laranja lima” e “Rosinha, minha canoa”.

    Mais tarde, durante a adolescência, fiquei sócio de uma biblioteca municipal e passei a devorar muitos outros livros de sua obra, que me fascinava muito, principalmente aquelas histórias passadas na ilha do Bananal, ou entre os índios, sempre num ritmo lento, preguiçoso, bem ao estilo do caboclo interiorano.

    Depois do Zé Mauro eu descobri Erico Veríssimo e me apaixonei por Ana Terra e pelo Capitão Rodrigo Cambará. Foi uma paixão que me levou a ler (e ter) todos os seus livros. Como era lindo o estilo de Erico escrever.

    Estes foram os dois autores brasileiros que mais li, que mais amei ler, que eu nunca poderia deixar de ter lido.

    Abraços

    Alvarez

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  2. Os livros que moldaram essa figurinha? Puxa ... Começou com uma coleção de quatro livrinhos de Natal das Ed. paulinas, que contavam o Natal dos bichinhos em uma floresta cheia de neve. Lembro que as capas eram de um azul escuro lindo, cheio de estrelinhas brancas. Depois, me apanharam Alexandre Dumas (eu não disse que era "perfeita") e Monteiro Lobato. Depois ... Bem um que me marcou, sim, de verdade, foi "...e a porteira bateu!", de Francisco marins, contando a história das fazendas de café ada estrada de ferro avançando pelo interior do estado, até Bauru, com os índios e o Cap. Galinha, de quem todos tinham medo. Depois, eu fui crescendo, fui chegando até Veríssimo-Pai.
    Paixão? Sergio Porto/Millor Fernandes/Leon Eliachar.

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  3. Olá Alvarez e Mariola! Que ótimo saber que as minhas lembranças liberaram as vossas!! E que beleza constatar que todos nós temos nossas paixões literárias de infância!

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