sexta-feira, 17 de junho de 2011

A literatura dos tempos de sombra do Brasil

Estou lendo Diário de Fernando, coletânea dos escritos feitos pelo frade dominicano Fernando de Brito, durante sua prisão em São Paulo, de 1969 a 1973, nos cárceres sujos da repressão militar. Frade Fernando descrevia os fatos que via e vivia em pequenos pedaços de papel que fazia sair da prisão dentro de canetas esferográficas. Esses documentos valiosos do período negro do Brasil foram compilados em livro pelo frei Betto, também vítima da ditadura militar.

Essa literatura documentária que somente se tornou pública muitos anos depois do encerramento do regime militar no Brasil é testemunha fria de dores e sofrimentos impostos não somente aos chamados subversivos, mas a seus familiares, inclusive crianças de meses e idosos.

Vários outros livros/documentos sobre as sevícias sofridas pelos presos e os anos de cárcere sem julgamento ou motivo justo que não o de ser contra um regime autoritário e ousar falar e agir se tornaram provas vivas de uma verdade que o Brasil tentou esconder por muito tempo.

Quando li pela primeira vez Brasil Nunca Mais não pude acreditar que aquilo tudo era a verdade nua e crua.  Um Brasil que se tornava tri-campeão de futebol também se tornava campeão em torturas e ilegalidades. Um Brasil de duas faces, sendo uma delas sórdida e negra. Concordo que havia radicalismo de ambos os lados. Sequestros de embaixadores, mortes de pessoas, atentados e violência não eram exclusivos do regime militar. Mas nada justifica que o poder constituído usasse de seus privilégios de poder e agisse impunemente torturando e prendendo pessoas aleatoriamente.

Ainda bem que mesmo no cárcere, mesmo com dores e sofrimentos esses prisioneiros pensavam, escreviam e faziam daquela dor uma obra literária para as gerações futuras.

Termino o Inspiracionando de hoje com A Internacional,  hino socialista que servia de oração com a qual os presos políticos mantinham a força de viver e que servia de estímulo para que continuassem lutando contra as indignidades e a total ausência de direitos humanos.

De pé, ó vitimas da fome
De pé, famélicos da terra
Da idéia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra
Cortai o mal bem pelo fundo
De pé, de pé, não mais senhores
Se nada somos em tal mundo
Sejamos tudo, ó produtores
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional
Senhores, Patrões, chefes supremos
Nada esperamos de nenhum
Sejamos nós que conquistamos
A terra mãe livre e comum
Para não ter protestos vãos
Para sair desse antro estreito
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós nos diz respeito
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional
O crime de rico, a lei o cobre
O Estado esmaga o oprimido
Não há direitos para o pobre
Ao rico tudo é permitido
À opressão não mais sujeitos
Somos iguais todos os seres
Não mais deveres sem direitos
Não mais direitos sem deveres
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional
Abomináveis na grandeza
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha
Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu
Querendo que ela o restitua
O povo só quer o que é seu
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional
Nós fomos de fumo embriagados
Paz entre nós, guerra aos senhores
Façamos greve de soldados
Somos irmãos, trabalhadores
Se a raça vil, cheia de galas
Nos quer à força canibais
Logo verás que as nossas balas
São para os nossos generais
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional
Pois somos do povo os ativos
Trabalhador forte e fecundo
Pertence a Terra aos produtivos
Ó parasitas deixai o mundo
Ó parasitas que te nutres
Do nosso sangue a gotejar
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o sol de fulgurar
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Até a próxima
Stanze

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