sábado, 20 de agosto de 2011

Férias

Olá todos

O Inspiracionando vai entrar de férias até o dia 09 de setembro 2011.

Até a volta,
Stanze

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O Diário de um Escritor

Parece estereótipo, nem todos o usam, mas muitos escritores - inclusive eu - carregam sempre consigo um pequeno caderno ou bloco de anotações, o salvador diário.

Vários de nós - principalmente as meninas - passaram pela adolescência escrevendo diários onde, além dos acontecimentos do dia a dia, eram registradas as emoções flutuantes de um adolescente. Diários de capas floridas, diários com chaves que guardavam segredos irreveláveis, diários de capa discreta ou com fotos de artistas. Ali as primeiras sensações do mundo eram escritas. Ali se criavam personalidades, histórias e se desenvolviam emoções.

O diário de um escritor não varia muito de um diário de adolescente. A grande diferença é que o escritor, além das emoções, também usa o diário para registrar fatos e observar o mundo à sua volta. O meu diário tem de tudo: corriqueiras descrições de passageiros em um trem, detalhes sobre um dia de sol ou de chuva, pedaços de diálogos ou trechos de uma cena desenvolvidos durante um passeio, viagem ou deslocamento ao trabalho. Algumas vezes guardo fotos ou cartões postais ou artigos de jornais ou revistas que possam servir, em algum momento, de inspiração .

Reler páginas de diários antigos é sempre uma fonte saciadora no deserto das palavras e ter às mãos um diário vira um hábito rotineiro na vida de um caçador de histórias.

Até a próxima
Stanze

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Sweep - Zoom in e Zoom out

Esta semana li um artigo interessante em um jornal online de literatura. O autor discorria sobre contos e demonstrava a utilização da técnica do sweep.

O termo sweep, em inglês, significa, entre outras coisas, uma dimensão mais larga e abrangente. Nos contos o autor não tem espaço para trabalhar exaustivamente um personagem ou um tema. O foco tem que ser preciso e imediato. Quanto mais curta a história, mais rápido o leitor tem que conhecer o enredo, o papel do personagem principal e o que ele deseja.

A técnica do sweep dá a oportunidade ao escritor de acrescentar em poucas linhas essa dimensão e profundidade que o personagem ou a história necessitam. Em um simples parágrafo o leitor pode conhecer o que realmente está por trás daquele enredo e o impacto que isso causa na história e no personagem.

Um exemplo prático seria uma história que envolve um ritual indígena. Digamos que um certo artefato seja usado nesse ritual. O autor poderia em um parágrafo usar um sweep para explicar a importância desse artefato para os indígenas e como ele tem sido usado de geração em geração, adicionando a visão da cultura nativa. Depois, ele retorna novamente para a história atual. O escritor aproveitou para criar uma dimensionalidade àquele enredo que fará com que o leitor compartilhe de forma mais profunda a experiência do personagem naquele momento.

O sweep pode ser praticamente visualizado como um zoom. No momento em que ele acontece o escritor dá um zoom out, ou seja, afasta a cena e traz a câmera para abranger o cenário como um todo. Retornando à história ele faz um zoom in, focando o enredo principal.

O sweep pode acontecer em qualquer momento da narrativa, tanto no começo quanto no meio. O importante, entretanto, é observar a sua introdução e saída. Quando no começo do conto o cuidado com a introdução não é tão essencial, mas, se ocorre no meio, o sweep tem que ser escrito de modo a fazer parte da história. Um dos maiores riscos de usar essa técnica é o perigo da divagação e generalização, incorrendo em distanciamento do enredo principal.

Criando aqui um exemplo rude da cena do ritual indígena um sweep seria algo assim:

"O cacique Capixaba se aproximou da cuia ritual, enquanto era observado pelos outros guerreiros dispostos ao seu redor.


Para os índios guajajaras aquela cuia representava a união dos deuses da floresta e dos céus. A água da chuva que era colhida nela representava a bênção dada por Huimatã. A cuia ficava sempre no centro da aldeia e quando transbordava, suas águas eram acolhidas pela Mãe Terra, consumando a junção dos deuses. Era então o momento da caça, da pesca e da colheita, todos abençoados por aquela união divina. A cuia era, para aqueles índios, um símbolo sagrado passado de geração a geração.


Capixaba pegou a cuia com as mãos e elevou-a aos céus."

Como falei acima esse texto é só um exemplo a grosso modo da técnica do sweep. O que vai acontecer com a cuia adquire uma importância bem mais impactante quando o leitor sabe que aquele objeto faz parte de uma cultura e tradição enraizadas. O sweep engrandece o conto em poucas palavras.

Até a próxima
Stanze

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Bem vindo ao mundo dos clichês

Quase todo mundo sabe o que é clichê na literatura: frases que de tão repetidas já as conhecemos de cor. E não há nada mais anti-criativo do que usá-las em uma obra de arte.  A palavra clichê se origina do francês e significa uma peça para impressão em série.

Em sua expressão primeira a frase clichê foi uma explosão de criatividade. Seu uso demasiado fez com que perdesse a originalidade e se tornasse simplesmente "clichê". Salvador Dali resume de maneira inteligente essa idéia: "O primeiro homem a comparar as bochechas de uma jovem mulher com uma rosa foi obviamente um poeta; o primeiro que repetiu essa comparação foi provavelmente um idiota".

Não existem somente frases clichês, há também atitudes, modismos e, principalmente personagens clichês. 

J.V.Jones, escritora de ficção, no livro "The Complete Handbook of Novel Writing" menciona vários personagens clichês que qualquer autor de bom senso deveria evitar. Infelizmente esses personagens continuam aparecendo em vários romances pelas prateleiras das livrarias.

Eis aqui uma interessante lista de personagens clichês:
  • O líder religioso de sangue quente determinado a destruir qualquer idéia nova;
  • O chefe mau de uma mega companhia que não se importa com o meio ambiente, seus empregados ou os habitantes de sistema solar mais próximo;
  • O cientista que não consegue ver o perigo que seu projeto representa;
  • O bravo, porém misterioso, aventureiro que no final é um nobre há muito tempo considerado desaparecido;
  • O visitante mal compreendido que necessita de ajuda para retornar para casa;
  • O líder militar sanguinário para quem os fins justificam os meios;
  • A figura autoritária especialmente estúpida que recusa qualquer opinião que não seja a dela própria e que por isso se torna responsável por todos os problemas da história;
  • O rei ou líder bonzinho mas sem cérebro que só ouve criaturas autoritárias estúpidas;
  • O nobre malvado que exala somente maldade;
  • O irmão mais novo que tem um bom coração e sabe o que é certo mas é sempre mal compreendido;
  • Qualquer um tremendamente bonito
E, para finalizar, algumas frases e expressões clichês bem conhecidas:
  • Não deixe para depois o que pode fazer hoje 
  • Selva de pedra
  • Não há lugar melhor que a casa da gente
  • Brincadeira de criança
  • Chovem gatos e cachorros
Evitar clichês é algo que todo autor tenta fazer em seu trabalho, entretanto, usar o clichê para criar um personagem com uma característica atípica é uma forma interessante de transformar o lugar comum em algo bem especial.

Até a próxima
Stanze

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Cozinhando a criação

Se podemos comer com os olhos, com certeza o processo de criar uma obra de arte é comparável ao preparo de uma deliciosa comida.

Procura-se primeiro a receita e em que culinária ela se encaixa. Do assunto surge o tema. É bom ler também outras receitas, e misturar tudo, pois daí nasce a inspiração. Vai-se então à busca dos ingredientes e moldam-se os personagens. Coloca-se na panela e da pena surgem as palavras.

Da culinária popular criam-se as lendas e os folclores. Suas receitas simples são passadas de boca em boca e geração em geração, muitas vezes sem ir ao forno ou tocar no papel. Da rapidez dos fast food se produzem os contos, as crônicas e os ensaios. Apesar de pequenos e rápidos têm um sabor próprio.Mas é da paciência do slow food que surgem os grandes romances. O tempo necessário para o cozimento da obra apura os sabores dos personagens e intensifica o palato da história.

Os temperos criam os diálogos e as descrições, que devem ser colocados com cuidado para não desandar. A preparação do prato é essencial e deve provocar saliva nos olhos do leitor com sua produção final.

Para a sobremesa nada melhor do que uma deliciosa poesia: leve, doce e absorvente. Coloca-se no fogo e espera-se rimar. E o segredo essencial é sempre, sempre, provar e revisar.

Entrega-se por fim a criação aos gourmets. E deles se espera a aprovação final. Com sorte e talento nossa arte é exibida em várias prateleiras e devorada por ávidos olhos. Do paladar dos leitores surge a premiação do mestre. O prato vazio e a página fechada com a saudade ainda nos lábios do que se acabou de provar. Depois, é só retornar à cozinha e começar tudo de novo, com novas receitas e novos recheios.

Até a próxima e bom apetite,
Stanze

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Liberdade, liberdade

Um dos temas que mais tem inspirado autores é a liberdade. A liberdade em todas as suas formas e faces é retratada em várias artes: literatura, pintura, escultura, filmes, etc. Esse tema é - e sempre será forte - porque é inerente do ser humano e, em cada local ou momento em que a liberdade é atacada, surge um conflito que gera palco para grandes atos e consequentemente grandes histórias.

Quando se fala em liberdade pode-se citar milhares de exemplos ao longo da história até os dias de hoje: as guerras de independência, as lutas contra a escravidão, a opressão existente, principalmente contra a mulher, nos países muçulmanos, a luta pela simples expressão na era comunista, e por aí vai. De homens a animais, da repressão física à psicológica, nenhum ser vivo foi criado para ter as suas asas cortadas e ter seus limites determinados por outrem.

Grandes exemplos na literatura e no cinema estão presentes em "Como era Verde o meu Vale", de Richard Llewellyn, que fala da repressão social causada pelo trabalho semi escravo nas minas de carvão; "Negras Raízes", de Alex Haley, sobre a escravidão negra; "Cry Freedom", filme dirigido por Richard Attenborough, sobre o apartheid na África do Sul; e vários outros.

A minha infância foi em grande parte influenciada pela literatura. Um dos poemas que até hoje me fazem arrepiar por ser um grito à liberdade representado de maneira fantástica pela pena de Olavo Bilac, - e que fez com que eu jamais gostasse de um pássaro preso em gaiola -, foi O Pássaro Cativo.

Por isso, termino o Inspiracionando de hoje com o grito de liberdade do pássaro de Olavo Bilac:

Armas, num galho de árvore, o alçapão
E, em breve, uma avezinha descuidada
Batendo as asas cai na escuridão.


Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada.
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo.
Porque é que, tendo tudo, há de ficar o passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?


É que, criança, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem 
Este cativo pássaro dizer:


'Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi...
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido e escondido
Entre os galhos das árvores amigas...
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Porque me prendes? Solta-me, covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade;
Não me roubes a minha liberdade...
Quero voar! voar! ...'


Estas coisas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição;
E a tua mão, tremendo, lhe abriria
A porta da prisão...
 
Até a próxima,
Stanze

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Paraprosdokian frases

Encontrei a inspiração para o artigo de hoje através de um e-mail enviado por um amigo sobre paraprosdokian frases. Sentenças ou frases paraprosdokian são figuras de linguagem em que a segunda parte complementa a primeira de forma contraditória ou cômica.

O termo tem origem grega e significa "além das expectativas". Por seu caráter irônico esse tipo de frase é comumente usado em comédias. Muito embora o termo não seja tão conhecido em português ele existe tecnicamente como figura de linguagem.

A maioria dos exemplos se encontra na língua inglesa, mas, baseado no conceito acima eu poderia criar as seguintes frases paraprosdokian:
 "Quem tudo quer nada tem, também, se tivesse não havia de querer";
 "Quem com ferro fere, com ferro será ferido, então é melhor ter a vacina anti-tétano às mãos".

Dois exemplos bem conhecidos e muito citados são:
"Copiar de um autor é plágio; copiar de vários é pesquisa"
"Porque se você disser que existem milhões de estrelas todos acreditam, mas dificilmente acreditarão se você disser que o banco está com a tinta fresca?"

Alguns outros exemplos que achei interessantes:
"Ir à igreja não fará de você um cristão, da mesma forma que ir a uma garagem não lhe transformará em carro"
"Conhecimento é saber que tomate é fruta. Inteligência é não colocá-lo na salada de frutas"
"Se eu concordasse com você, ambos estaríamos errados"
"A guerra não determina quem está certo, apenas quem sobrevive"
"Um banco é um local onde você pode pedir dinheiro emprestado, se conseguir provar que não precisa dele"
"Os golfinhos são animais tão espertos que em poucas semanas de cativeiro eles conseguem treinar pessoas a se posicionarem na beira de um aquário e lhes servir peixe"
"A luz viaja mais rápido que o som. É por isso que muitas pessoas parecem brilhantes até que comecem a falar"
"Por trás de um homem de sucesso há sempre uma mulher. Por trás de um fracasso na vida de um homem há sempre a outra mulher"
"Peça sempre dinheiro emprestado de um pessimista. Ele nunca vai esperar que você o pague"
"Um diplomata é uma pessoa que lhe manda para o inferno de uma tal maneira que você começa a esperar ansiosamente pela viagem"
"Quando você estiver tentado a combater fogo com fogo, lembre-se que o corpo de bombeiros usa quase sempre água"
"Você nunca estará velho demais para aprender alguma coisa idiota"
"Algumas pessoas ouvem vozes. Outras vêem pessoas invisíveis. E outras não possuem a menor imaginação"

Até a próxima
Stanze